Homens gays na África estão responsabilizando a decisão do ex-presidente Donald Trump de cortar fundos para prevenção do HIV/AIDS pela disseminação do vírus. As drásticas reduções nos recursos destinados à ajuda externa, que incluíam medicamentos como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), têm limitado o acesso a tratamentos que reduzem em até 99% o risco de contração do HIV.
Impacto dos cortes nos programas de prevenção
Emmanuel Cherem, um homem gay de 25 anos na Nigéria, relatou à Reuters que testou positivo para HIV dois meses após perder o acesso ao medicamento fornecido pelos Estados Unidos. Ele expressou frustração, afirmando: “Eu me culpo… Cuidar de mim mesmo é meu primeiro dever como pessoa, mas também culpo a administração Trump, pois esses medicamentos estavam disponíveis e, sem aviso prévio, foram cortados.”
Echezona, um outro homem gay de 30 anos, afirmou que tomou pílulas de PrEP diariamente por três anos até ser informado de que o acesso ao medicamento agora era restrito apenas a mulheres grávidas e lactantes. Ele pediu que Trump revertesse sua política para evitar a propagação do HIV: “Eu só oro e desejo que Trump realmente mude sua política e tudo volte ao normal.”
Decisões que mudaram o cenário da saúde
Logo no seu primeiro dia no cargo, Trump emitiu uma ordem executiva que suspendeu a assistência ao desenvolvimento externo por 90 dias. O Secretário de Estado Marco Rubio também assinou uma ordem de “parada de trabalho” para os funcionários do Escritório de Assistência Externa. Desde então, o investimento destinado à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e ao Plano de Emergência do Presidente para a Resposta ao HIV/AIDS (PEPFAR) sofreu cortes significativos.
O governo Trump justificou sua postura, afirmando que outros países devem assumir a responsabilidade de prover a ajuda necessária. Durante uma visita do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa à Casa Branca, Trump reconheceu que os cortes podem ser “devastadores”, mas argumentou que a ajuda deve ser um esforço compartilhado: “Queremos que outros países também contribuam.”
Consequências para populações vulneráveis
A exclusão dos homens gays e outras populações vulneráveis, como trabalhadores do sexo e usuários de drogas injetáveis, das medidas de prevenção coloca em risco a saúde pública. As doações do PEPFAR frequentemente cobriam o custo de clínicas que forneciam PrEP, mas muitas dessas unidades estão fechando devido à redução do financiamento.
A especialista em HIV da Universidade da Cidade do Cabo, Linda-Gail Bekker, alertou sobre o potencial aumento das infecções caso a política restritiva de auxílio persista. “Se você desviar o olhar de um incêndio que ainda está vivo, ele voltará”, disse ela, enfatizando a gravidade da situação.
Resposta de outros países e a necessidade de ação
Paises como Malaui, Zimbábue e Moçambique, que estavam quase totalmente dependentes do financiamento dos EUA para a prevenção do HIV, estão enfrentando enormes dificuldades. Em resposta aos cortes da USAID, a Etiópia implementou um novo imposto sobre a folha de pagamento para financiar medicamentos que antes eram fornecidos pelos EUA. As agências de saúde pública e os ativistas temem que a falta de recursos resulte em um retrocesso nos avanços logrados na luta contra o HIV/AIDS.
Dois anos após a administração Trump, um porta-voz da Casa Branca afirmou que “a América continua a ser o país mais generoso do mundo”, destacando que “programas do PEPFAR ainda atendem quase 18 milhões de pessoas em mais de 40 países”. Contudo, muitos questionam a sustentabilidade dessa ajuda em um cenário onde os recursos estão se esgotando, especialmente para os grupos mais vulneráveis.
A luta contra o HIV/AIDS na África está longe de acabar, e a interseção entre política e saúde pública se torna cada vez mais crítica. Os desafios futuros exigirão um compromisso renovado e um foco inclusivo para garantir que todas as populações tenham acesso às ferramentas necessárias para combater a epidemia. O tempo correrá e as decisões feitas agora moldarão a saúde pública para as gerações futuras.