Um dos momentos mais emocionantes e surreais da minha vida ocorreu ontem, quando peguei um trem na caótica Penn Station em Nova York para ir para Nova Jersey cantando o hino do Palmeiras e outros gritos de guerra. Uma maré verde que já lotou a Times Square e fez tremer a Brooklyn Bridge agora lotava dezenas de vagões de trem. Estava com minha mulher e meus filhos pequenos, nascidos nos EUA e que apenas haviam ido a um estádio para assistir ao time de beisebol do New York Mets.
A alegria do hino brasileiro
Os olhos de ambos brilhavam de alegria ao ver aqueles torcedores todos do Brasil entoando músicas longas em português. Até aprenderam o “defesa que ninguém passa, linha atacante de raça…” do hino do alviverde imponente. Um contraste com o grito artificial de “Let’s Go Mets” puxado pelo sistema de som do estádio. Não há nenhum grito de guerra além deste. No resto do tempo, nos jogos esportivos nos EUA, tratam o evento como entretenimento.
Futebol e suas torcidas apaixonadas
A torcida palmeirense não é a única a demonstrar essa paixão. Flamenguistas, tricolores e alvinegros também têm dado show nos jogos. Sabemos que torcedores do Boca Juniors, do River Plate e da Premier League encantam as arquibancadas. Somente aqui é que basicamente é “Let’s go” e o complemento que vier, com raras exceções como o Boston Red Sox com “Sweet Caroline” (e ainda assim puxado pelo sistema de som da Fenway Park).
Um sentimento surreal em Nova Jersey
Mas voltemos ao surreal sentimento de estar com centenas de palmeirenses na cidade onde vivo há duas décadas. Sendo honesto, americanos e mesmo europeus que aqui residem sabem pouco dos times brasileiros, embora sejam fascinados com nossos jogadores e os com mais de 30 anos ainda possuam memória dos áureos tempos da seleção. Somente os sul-americanos sabem bem da grandiosidade dos times brasileiros na Copa do Mundo de Clubes.
Identidade e reconhecimento no esporte
Costumo ver muitas crianças com camisas de times europeus na escola do meu filho, além de seleções da Argentina, da França e ocasionalmente do Brasil. As seis crianças brasileiras que estudam lá se dividem entre dois palmeirenses (meu filho e minha filha), duas corintianas, uma torcedora do Fluminense e um do Botafogo. Infelizmente, até a Copa de Clubes poucos reconheciam. Agora, os meninos do futebol viram meu filho de verde e reconheceram a “Palmeiras Jersey”.
Uma conversa inesperada no elevador
Cheguei do estádio pouco antes de escrever esta coluna. No elevador, subi com um pai que voltava com a filha no carrinho de passeio e dois jovens com a camisa do Yankees. O pai perguntou se aquela camisa era do Palmeiras e disse gostar de futebol. Os dois do Yankees não sabiam do Palmeiras, mas sabiam da Copa de Clubes e estavam deslumbrados com o gol de falta de Messi para o Inter Miami contra o Porto (Messi é ultraconhecido nos EUA).
A celebração da paixão pelo futebol
Não sei se o Palmeiras ganhará a Copa. Mas que privilégio comemorar com minha família no meio da torcida no MetLife Stadium. Foi um dos mais momentos mais felizes da minha vida. Sei também de amigos palmeirenses, flamenguistas, tricolores e botafoguenses, especialmente os que moram nos EUA. É um êxtase ver seu time de infância, que chegou a ficar na fila sem títulos e disputou duas Séries B, de repente estar no maior campeonato de clubes da história do futebol, na nação onde vivemos.
Em cada cantar do hino, em cada bandeira levantada, a paixão pelo futebol brasileiro se faz presente e ecoa entre os corações dos torcedores, provando que, mesmo longe, a entrega e a emoção são inigualáveis.