Nesta quarta-feira (18/6), a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, foi elevada para 15% ao ano, segundo decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Este é o maior índice desde julho de 2006, refletindo um ciclo de aumento que já dura sete meses consecutivos. O aumento dos juros é uma estratégia do governo para controlar a inflação, embora também tenha mostrado um impacto negativo sobre o consumo e os investimentos no país.
O que significa a alta da Selic?
A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para combater a inflação. O aumento da taxa resulta na elevação do custo do crédito, o que tende a desaquecer a atividade econômica e ocasionar uma queda dos preços. Apesar de essa ser a expectativa, a inflação, especialmente dos alimentos, continua a ser uma dor de cabeça para o governo federal, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Recentemente, as projeções apontam que o mercado não acredita em um retorno da Selic a dois dígitos durante e gestão de Lula e de Gabriel Galípolo no Banco Central. O Copom, que deve se reunir novamente nos dias 29 e 30 de julho, sinalizou que a taxa irá permanecer elevada por um período prolongado.
Repercussão política da decisão
A decisão de aumentar a taxa de juros recebeu duras críticas de diversos setores políticos. O presidente Lula, que em momentos passados havia expressado opiniões críticas sobre a Selic elevada sob a gestão de Roberto Campos Neto, agora comenta que a alta era esperada. Recentemente, ele afirmou que a inflação estava sob controle e expressou otimismo sobre possíveis quedas futuras na taxa de juros.
“O que está acontecendo já estava precificado. Então, estamos conscientes de que a inflação está controlada e que em breve o Banco Central tomará a atitude correta de reduzir os juros”, declarou o presidente.
Entretanto, essa visão não é compartilhada por todos. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), criticou a decisão, descrevendo os 15% como “indecentes e proibitivos”, acusando a alta da Selic de desestimular investimentos produtivos. O deputado Rogério Correia (PT-MG) ressaltou que cada aumento de um ponto percentual na Selic representa um custo de R$ 38 bilhões aos cofres públicos, dinheiro que elevrija para o sistema financeiro.
Expectativas futuras e políticas do Copom
O comitê anunciou que, embora a elevação da Selic seja uma realidade, eles estão conscientes de que a situação da inflação requer uma política monetária contracionista sustentada. Com as expectativas de inflação permanecendo acima da meta para 2025 e 2026, a perspectiva é de que juros altos sejam uma constante na economia brasileira.
A mensagem do Copom sugere que o juro continuará sendo um mecanismo central para preservar a meta inflacionária, mesmo que isso implique sacrificar o crescimento econômico. O economista Enrico Gazola ressalta a importância de um arcabouço fiscal crível e afirma que, enquanto isso não ocorrer, o risco de investimentos e inovação continuará alto.
“A bola volta agora para o Executivo e o Congresso: enquanto o arcabouço fiscal não convencer, o prêmio de risco permanecerá estruturalmente alto, inibindo investimento, inovação e produtividade”, avalia Gazola.
A economista Carla Beni, da FGV, chamou atenção para a mudança no patamar da taxa real de juros, que agora se observa em um nível significativamente mais alto do que antes da pandemia. Com a Selic comparada ao IPCA, a taxa atual varia entre 9%, enquanto antes estava entre 4,5% e 5%. Essa alteração indica uma abordagem diferente do Banco Central, que, segundo Beni, pode não ser apenas fiscal, mas se baseia em decisões internas da instituição.
A professora também prevê que futuras reuniões do Copom podem seguir mantendo a Selic em 15%, o que seria uma mudança de estratégia refletindo um viés neutro. A evolução das situações econômicas e políticas do Brasil com certeza continuará a ser monitorada por economistas e cidadãos que aguardam um desdobramento dessa nova realidade.