A investigação da Polícia Federal (PF) sobre uma estrutura paralela criada dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) revelou indícios de um suposto uso político do órgão durante o governo de Jair Bolsonaro. Segundo os registros da PF, houve ações direcionadas contra adversários políticos e medidas destinadas a proteger aliados, incluindo os filhos do ex-presidente. No desfecho da apuração, a PF indiciou o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ), o atual diretor Luiz Fernando Corrêa, além de outras 35 pessoas.
Estrutura paralela e suas funções
O indiciamento de Ramagem não foi comentado publicamente por ele. Em declarações anteriores, o ex-diretor negou a existência de uma estrutura paralela na Abin e a participação em espionagens ilegais. A Abin, por sua vez, deixou claro que os eventos investigados ocorreram em “gestões passadas” e se colocou à disposição das autoridades.
A investigação começou após o jornal O GLOBO relatar, em março de 2023, a compra de um sistema espião pela agência para monitorar a localização de alvos previamente determinados em todo o país. As evidências obtidas até o final da apuração contestam as declarações de Ramagem, que tentava minimizar a gravidade das ações realizadas. As mensagens interceptadas revelaram que o ex-presidente Bolsonaro era o “principal destinatário” das informações e ações clandestinas da Abin.
Utilização de tecnologias para fins políticos
Mensagens reveladas no relatório da PF indicam que drones e câmeras da Abin foram incorporados para monitorar manifestações favoráveis ao governo, com material coletado sendo utilizado para fins políticos. A PF considerou essa prática como um desvio de recursos e funções da agência. Em um dos incidentes, vídeos de uma motociata organizada por Bolsonaro em 2021 foram postados na conta do Twitter de Alexandre Ramagem.
Essas gravações e os dados obtidos durante protestos demonstraram a manipulação de informações e o uso de equipamentos de inteligência para favorecimento político, um desvio das funções legítimas da Abin.
Espionagem de adversários políticos
Documentos e conversas em plataformas como WhatsApp mostram que a “Abin paralela” foi acionada para monitorar adversários políticos, como o deputado federal Marcelo Ramos (PSD-AM), na época vice-presidente da Câmara. Essas ações demonstram uma clara intenção de dificultar a atuação de opositores e manipular o jogo político a favor do governo de Jair Bolsonaro.
Além disso, a PF também identificou que os agentes que trabalhavam para Ramagem foram solicitados a realizar vigilância sobre movimentos sociais e ativistas de esquerda, consolidando um ambiente de espionagem contínuo e sistemático de opositores.
Rede de desinformação e proteção a aliados
O ex-vereador Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, também foi mencionado nas investigações. Ele é apontado como o receptor final das informações geradas pela estrutura paralela da Abin, responsável por criar uma rede de desinformação e manipulação ativa nas redes sociais. Mensagens trocadas durante a investigação reforçam a intenção de proteger indivíduos dentro do círculo familiar do ex-presidente, garantindo que informações relevantes a investigações em curso não chegassem a autoridades competentes.
Incursões na política eleitoral
A PF levantou ainda indícios de que a Abin esteve envolvida em atividades que buscavam descredibilizar opositores nas eleições de 2022, associando Luiz Inácio Lula da Silva a disputas e escândalos de corrupção fictícios. A investigação revelou trocas de mensagens entre integrantes da estrutura pararela em que se discutia como manipular a percepção pública através de informações falsas.
Conclusão
A investigação da Polícia Federal sobre o uso político da Abin durante o governo de Jair Bolsonaro evidencia práticas preocupantes que ameaçam a integridade das instituições brasileiras. Com um conjunto robusto de evidências que mostram espionagem ilegal, desvio de recursos e manipulação de informação, o caso se tornou um marco na história recente do Brasil, suscitando debates sobre a ética e a funcionalidade das agências de inteligência no país.
Os desdobramentos dessa investigação são aguardados pela sociedade, que clama por transparência e justiça diante dos abusos de poder que vieram à tona.