Mensagens apreendidas no celular de Flávio Peregrino, ex-ajudante de ordens do general Braga Netto, trouxeram à tona informações que revelam como o governo Bolsonaro planejou ações e discursos nas vésperas das comemorações do 7 de Setembro de 2021. Esses documentos foram encontrados pela Polícia Federal (PF) e são considerados fundamentais para entender as comunicações e pressões que ocorreram naquele período.
Conteúdos do PowerPoint apreendido
Além de mensagens, os investigadores localizaram dois arquivos em PowerPoint que continham cenários detalhados para a atuação do governo nos dias que antecederam a data que marca a Independência do Brasil. Um dos arquivos, intitulado “07 de Setembro — dia anterior”, delineava instruções sobre como o Ministério da Defesa deveria proceder em relação às manifestações programadas. As informações sobre esse material vieram à tona em um relatório da PF, cujo sigilo foi removido recentemente.
No documento, são mencionados 14 “fatores intervenientes na comunicação”, e é descrita uma reunião que ocorreria no dia 6 de setembro com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Esse planejamento incluía tópicos que o governo gostaria que fossem divulgados pela imprensa e por canais bolsonaristas, reforçando a mensagem de que as Forças Armadas apoiavam o presidente e sua visão de comemorar uma “segunda independência”. Um dos slides trazia o título “O QUE COMUNICAR? – Guerra das Narrativas”, indicando uma estratégia de controle da narrativa pública.
Defesa da liberdade e reação a opositores
O segundo arquivo, mais extenso e intitulado “7 de Setembro — Versão 04”, começa destacando que o Ministério da Defesa e as Forças Armadas “não podem ser surpreendidos ou desmoralizados”. A proposta do governo para 7 de setembro era posicionada como uma defesa da liberdade, buscando mobilizar a participação popular em resposta a ações que consideravam autoritárias por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
Os slides também indicam a necessidade de evitar novas situações similares ao ataque ao Capitólio nos Estados Unidos, e alertavam sobre tentativas da mídia de alterar a percepção pública sobre as comemorações. Entre as referências, o documento menciona uma reportagem do Metrópoles, que abordou o que poderia ser chamado de “ensaio de golpe” sob a liderança de Bolsonaro.
Cenários e medidas previstas
Os documentos encontrados previam três cenários possíveis: “desescalar sem desmobilizar as manifestações”; “adoção de medidas restritivas por opositores”; e “Garantia da Lei e da Ordem – variantes”. Dentro do contexto da GLO, os slides apresentavam expectativas sobre desdobramentos, que incluíam a atuação das forças de segurança pública nos estados e a possibilidade de convulsão social.
A PF, no entanto, indica que a hipótese de um regime de GLO tinha relação direta com a declaração do então presidente do STF, Luiz Fux, que afirmou que tomaria providências se manifestantes ameaçassem a sede do Supremo. Este cenário foi muito debatido, especialmente à luz das declarações de Bolsonaro durante as comemorações de 7 de setembro, quando fez ameaças abertas a ministros e sugeriu a convocação de uma reunião do Conselho da República, evento que poderia levar a uma intervenção federal.
Repercussões políticas e sociais
A situação gerou um forte mal-estar entre os Poderes e levantou preocupações sobre a institucionalidade e a estabilidade política no Brasil. As informações reveladas nos documentos da PF trazem uma nova perspectiva sobre os dias que antecederam a manifestação, onde a polarização entre apoiadores e opositores do governo se encontrava em seu ápice.
Esse tipo de conteúdo, agora revelado, impõe um novo desafio à comunicação social e à política brasileira, reafirmando a necessidade de um debate aberto e transparente sobre as manobras políticas e as estratégias de comunicação de governo em momentos de crise. Enquanto a investigação da PF continua, a sociedade se vê em uma encruzilhada, onde resta avaliar as implicações dessas revelações nos âmbitos social e político.
À medida que novos detalhes emergem, é essencial que os cidadãos e as instituições estejam atentos e pautados por uma informação clara e objetiva sobre os acontecimentos que moldam o futuro do país.
