Na abertura da Copa do Mundo de Clubes, ficou claro que os clubes europeus sofisticados estão lidando com um desafio imprevisto: o calor intenso do verão americano e a exaustão acumulada após uma temporada sem precedentes. Com 11 meses de futebol sem pausas relevantes, os atletas europeus estão cada vez mais desgastados, o que pode impactar diretamente seu rendimiento nas competições internacionais.
A pressão do calendário europeu
Durante a temporada, os jogadores europeus enfrentaram um calendário insano, levando a FIFPro, o sindicato dos jogadores, a tomar medidas legais contra a FIFA. O objetivo é garantir o direito dos atletas a períodos de descanso adequados. O número de partidas, aliado a competições de alto nível como a Eurocopa e a Copa América, tem exigido um esforço sobre-humano dos atletas.
Desafios do ambiente nos Estados Unidos
O calor escaldante na cidade da Filadélfia, com temperaturas em torno de 35°C e alta umidade, transforma o campo em um verdadeiro teste para os atletas. Pep Guardiola, treinador do Manchester City, chegou à coletiva de imprensa após a vitória sobre o Wydad Casablanca visivelmente drenado, refletindo a dificuldade que muitos clubes estão enfrentando. Vale lembrar que a maioria das equipes europeias está acostumada a jogar sob climas mais frios, e o desafio gerado pelo ambiente americano se torna ainda mais profundo conforme o torneio avança.
Impacto no desempenho dos jogadores
Com o torneio se desenrolando, a preocupação sobre como os atletas europeus irão manter o nível de competitividade é crescente. Durante uma partida recente, o craque brasileiro Vinicius Junior, conhecido por sua energia, deixou o campo com cãibras, um claro sinal do desgaste extremo. Além disso, partidas intensas entre PSG e Atlético de Madrid revelaram equipes lutando para se manter de pé sob o calor intensificado, sugerindo que o cansaço pode comprometer o desempenho em jogos decisivos.
Estratégias de gestão no torneio
Com a proximidade das eliminatórias e a constante pressão para manter a competitividade, Guardiola reconheceu a dificuldade de equilibrar entre poupar jogadores e assegurar que a equipe mantenha um nível competitivo alto. A dúvida agora é se o Mundial de Clubes será o fim da temporada anterior ou o início de uma nova campanha. Contudo, muitos acreditam que os clubes sul-americanos podem ter uma vantagem, jogando em condições mais familiares.
Brasileiros prontos para o desafio
A expectativa para os times brasileiros no torneio é alta, especialmente quando se considera a chance de enfrentar europeus com menos gás neste contexto. Embora esteja claro que a disparidade técnica entre os clubes europeus e sul-americanos ainda persista — como evidenciado pela força do PSG, que goleou adversários sem esforço —, há esperança de que o desempenho recente de times como Fluminense, Palmeiras e Boca Juniors contra equipes europeias sugira um confronto mais equilibrado.
A mudança no formato do Mundial
O novo formato da competição, que elimina a crueldade dos jogos únicos em dezembro, permite que os sul-americanos cheguem com foco e planejamento. Essa mudança torna a competição mais acessível, levando em conta as condições enfrentadas pelos jogadores. Entretanto, a trajetória ainda será desafiadora, especialmente ao considerar os desafios climáticos e a experiência de jogar em solo europeu. O que está em jogo agora é a honra das equipes e a possibilidade de provar que podem competir em igualdade de condições.
Com o campeonato em andamento, os olhos dos fãs estão voltados para essa nova dinâmica de jogo que o Mundial de Clubes pode proporcionar. A história recente nos mostra que, apesar das dificuldades, tudo pode acontecer nas competições futebolísticas, e este ano, a rivalidade promete ser mais acirrada do que nunca.
*Fernando Kallás é jornalista, correspondente internacional na Espanha e colunista convidado do GLOBO na Copa do Mundo de Clubes