O cenário internacional apresenta uma complexidade crescente para os Estados Unidos, que tentam equilibrar interesses econômicos e de segurança. Enquanto Donald Trump busca reestabelecer laços comerciais mínimos com a China, o conflito no Oriente Médio e as relações com o Irã colocam em xeque essa estratégia, especialmente em um contexto de alianças estratégicas entre China e Rússia.
Diplomacia, economia e segurança internacional
Segundo o cientista político José Niemeyer, professor de Relações Internacionais do Ibmec, a China, maior importadora de produtos americanos, mantém uma postura de resistência às manifestações em questões internacionais, condenando os ataques de Israel ao Irã. “Diante dessas tensões, como Trump vai negociar uma trégua comercial com a China e ao mesmo tempo agir contra o Irã?”, questiona Niemeyer, que esteve em Israel em fevereiro para aprofundar seus estudos sobre o país.
Implicações da aliança China-Rússia
Niemeyer destaca que, ao contrário do que ocorreu durante a Guerra Fria, China e Rússia atualmente possuem uma aliança estratégica, com a China apoiando economicamente a Rússia, inclusive na guerra contra a Ucrânia. “Essa aliança reforça a complexidade do jogo geopolítico, onde os interesses de uma potência não se alinham necessariamente aos de outras”, explica o especialista.
Resistência interna e riscos econômicos
O pesquisador aponta ainda que o apoio popular nos Estados Unidos para uma intervenção militar contra o Irã é praticamente inexistente, reforçando a cautela de Trump. “Ele não tem apoio do seu eleitorado para entrar numa guerra envolvendo Israel e Irã. Além disso, uma ação militar custaria caro à economia americana, que já não está em um momento favorável”, afirma Niemeyer.
Ameaças no Oriente Médio e efeitos globais
Recentemente, Trump chegou a pedir a rendição incondicional do Irã enquanto enviava caças ao Oriente Médio, numa tentativa de mostrar força (leia mais aqui). O Irã, por sua vez, responde por cerca de 7% da produção global de petróleo, controla o estratégico Estreito de Ormuz e dispõe de armamento próprio, incluindo drones e tanques, além de fornecer tecnologia para a Rússia na guerra contra a Ucrânia.
Se o Irã decidir interromper o tráfego pelo Estreito de Ormuz, o impacto na inflação mundial será imediato, afetando inclusive o agronegócio brasileiro, que depende de fertilizantes importados da região. Niemeyer alerta que uma eventual interrupção elevando os preços do petróleo pode gerar um efeito cascata na economia global e na logística de transporte.
Impactos econômicos e desafios futuros
O especialista avalia que o fechamento do Estreito de Ormuz pode diminuir drasticamente a oferta de petróleo, provocando inflação global e problemas logísticos, principalmente para o Brasil, que importa fertilizantes derivados de petróleo. “Seria um paradoxo um país produtor de petróleo como o Brasil ainda depender de importações de fertilizantes para a agricultura”, critica Niemeyer.
Atualmente, o jogo de xadrez geopolítico entre os principais atores do cenário internacional evidencia os desafios de uma política externa equilibrada, onde interesses econômicos, alianças estratégicas e questões de segurança se entrelaçam de forma cada vez mais complexa.
Fonte: O Globo