A Polícia Federal (PF) revelou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi utilizada em uma operação clandestina que buscava associar o então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao ex-chefe da inteligência da Venezuela, Hugo “Pollo” Carvajal, que está preso nos Estados Unidos e é acusado de narcotráfico. Segundo a PF, o objetivo era “interferir no cenário eleitoral de 2022”, levantando questões sérias sobre a integridade do processo democrático no Brasil.
A operação da Abin e a ligação com Carvajal
De acordo com o relatório final da PF, a estratégia envolvia a produção de material que vincularia opositores políticos, especialmente o ex-presidente Lula, ao narcotráfico. Isso seria uma tentativa direta de influenciar as eleições de 2022, de acordo com as investigações. Os registros apontam que um grupo no WhatsApp formado por oficiais da Abin discutia a missão, sugerindo uma operação altamente organizada e coordenada.
Um dos agentes de inteligência mencionou que o “DG pediu um relatório pra hoje sobre isso”, referindo-se a Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Abin e atualmente deputado federal. A natureza dos diálogos no grupo revela um claro conluio entre os integrantes da Abin para orquestrar uma narrativa negativa contra Lula, utilizando informações sobre Carvajal como base para suas acusações.
Os detalhes da “Operação Carvajal”
A “Operação Carvajal” foi inicialmente revelada pelo jornal O GLOBO em fevereiro de 2024. Durante o período eleitoral em 2022, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) chegou a solicitar informalmente que a Abin realizasse uma missão na Espanha, onde Carvajal havia sido preso, antes de ser extraditado para os Estados Unidos. Contudo, o plano não foi adiante devido ao risco de vazamento de informações.
Além disso, a PF encontrou mensagens que revelam que um ex-coordenador da Abin planejava enviar um “trabalho detalhado e um resumo para o PR”, que se referia a uma postagem da deputada licenciada Carla Zambelli. Nesta postagem, Zambelli alegava que Carvajal havia feito declarações sobre o financiamento de Lula e outros políticos de esquerda pelo governo venezuelano, evidenciando a tentativa de criar um laço entre Lula e atividades criminosas.
Implicações da reunião ministerial
O assunto foi amplamente discutido em uma reunião ministerial gravada pelo então presidente Jair Bolsonaro em julho de 2022. Durante essa reunião, Bolsonaro mencionou informações sobre Carvajal, insinuando que o ex-chefe de inteligência da Venezuela havia financiado Lula e outros políticos com dinheiro oriundo do narcotráfico. No entanto, o presidente não apresentou provas concretas para respaldar suas declarações.
A conexão com Carvajal
Hugo Carvajal, que foi um dos homens de confiança do falecido ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, é acusado pelos Estados Unidos de se associar a grupos paramilitares, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), para a exportação de cocaína para a América do Norte. O Departamento de Justiça dos EUA descreveu Carvajal como um líder proeminente do “Cartel de los Soles”, que envolve membros do governo venezuelano. Essa conexão preocupa as autoridades brasileiras sobre as possíveis repercussões desse tipo de associação política.
Investigação e implicações legais
Em julho do ano passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou a abertura de uma investigação contra Zambelli para apurar sua participação na tentativa de vincular Lula a Carvajal. A PF revelou que Zambelli teria intermediado a viagem de uma influenciadora à Espanha, onde Carvajal estava preso, indicando que a estratégia era parte de um esforço maior e mais abrangente para impulsionar ataques políticos contra o ex-presidente.
A investigação da PF destaca não apenas a grave utilização de uma agência de inteligência para fins políticos, mas também a fragilidade das instituições democráticas no Brasil. Com as eleições à vista e a polarização acentuada, eruptar esse tipo de operação pode ter repercussões duradouras e desestabilizadoras para o futuro político do país.
Os desdobramentos da investigação da PF são esperados com grande expectativa, à medida que se busca entender a extensão real dessa operação e as possíveis consequências para os envolvidos, além de reafirmar o compromisso do Brasil com um processo eleitoral justo e transparente.