Um levantamento realizado pelo GLOBO revela que a Amazônia Legal, vitrine das ações do governo Lula no combate ao desmatamento, é dominada por uma representatividade política que tende à direita. Exatamente 56% de seus parlamentares no Congresso pertencem a partidos de direita, um índice que supera a média nacional de 48,2% nas duas Casas. Essa composição tem gerado um impacto significativo nas votações relativas à agenda ambiental, pois os representantes da região não costumam votar de forma alinhada a essas pautas, conforme apontado pelo Índice de Convergência Ambiental Total (Icat), criado pelo projeto Farol Verde da Virada Parlamentar Sustentável.
Conflitos entre parlamentares e o Ministério do Meio Ambiente
O perfil político da região ajuda a esclarecer os embates recentes entre parlamentares e o Ministério do Meio Ambiente. Senadores como Plínio Valério (PSDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM) e Marcos Rogério (PL-RO) estiveram no centro de discussões acaloradas que levaram a ministra da pasta, Marina Silva, a abandonar uma comissão do Senado no mês passado. A tensão surgiu logo após a aprovação de um projeto de lei que facilita o licenciamento ambiental, criticado por Marina, que busca derrubá-lo na Câmara.
As pautas defendidas por esses parlamentares incluem a exploração de petróleo na Foz do Amazonas e a pavimentação da BR-319, que conecta Manaus a Porto Velho. A movimentação no Congresso em torno dessas questões reflete um alinhamento total com interesses econômicos, sem a devida consideração pelo impacto ambiental.
Representatividade política e alinhamento ambiental
Os dados do GLOBO revelam que a representação da esquerda na Amazônia é consideravelmente menor em comparação com o Congresso, onde o campo ocupa 24,6% dos assentos, enquanto na Amazônia esse número cai para 12%. A região ainda é marcada por uma maior parcela de políticos de centros, cerca de 32%, em comparação com 27,2% em nível nacional.
Sobre a adesão à agenda ambiental, o levantamento revelou que os deputados e senadores da Amazônia têm o segundo menor índice de alinhamento com essa pauta, segundo o Icat — à frente apenas dos parlamentares do Pantanal. O alinhamento na Câmara é de apenas 22,39%, enquanto no Senado é ainda menor, com apenas 21,47%, desconsiderando a média geral que gira em torno de 25% a 29%.
Desinteresse pela pauta ambiental nas redes sociais
Outra pesquisa da PUC-Rio indica que apenas 2,8% das publicações de políticos da Amazônia em 2023 tratavam de meio ambiente e amazônia. Temas como educação, infraestrutura e saúde dominaram as interações nas redes, evidenciando um desinteresse generalizado pelas questões ambientais entre os representantes da região.
Essa situação é alarmante, não apenas pela falta de atenção a problemas prementes, mas também por ser uma evidência de como a agenda ambiental ainda é vista como uma pauta de esquerda, o que limita debates mais amplos sobre o meio ambiente e seu impacto social e econômico.
Visões divergentes sobre desenvolvimento
Alguns parlamentares, como o senador Marcio Bittar (União-AC), expressam a necessidade de um “modelo de desenvolvimento” que priorize a utilização dos recursos naturais para o crescimento, argumentando que a proteção ambiental, como proposta pela ministra, não está sendo acompanhada de medidas efetivas que promovam melhorias sociais e estruturais na região, como saúde e educação.
O senador Omar Aziz, por sua vez, atribui o aumento do conservadorismo nos estados amazônicos à ampliação do segmento evangélico e à falta de comunicação entre o ministério e os políticos locais. Essa desconexão tem dificultado a implementação de políticas que unam desenvolvimento econômico e preservação ambiental.
Considerações Finais
O quadro político da Amazônia Legal apresenta um desafio significativo para a abordagem da questão ambiental no Brasil. Parlamentares em sua maioria ligados à direita frequentemente não veem a preservação ambiental como uma oportunidade, mas como um obstáculo ao desenvolvimento. Para que essa situação seja revertida, é essencial abrir espaço para um diálogo mais amplo que inclua não apenas os desafios ambientais, mas também as necessidades de desenvolvimento social e econômico da região.
O engajamento em uma agenda ambiental deve se tornar fundamental e não apenas uma preocupação de um grupo político, mas uma questão de interesse nacional. Para isso, é preciso mudar a forma como a narrativa ambiental é apresentada e encorajar uma ação que conecte desenvolvimento às práticas sustentáveis.