Brasil, 18 de junho de 2025
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Reação de acompanhante de luxo à representação em “Anora”: “Fiquei muito irritada”

Ao assistir ao filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e vencedor de cinco Oscars, uma acompanhante de luxo de Manhattan, Emma*, expressou forte indignação com a representação do setor de sexo no cinema. Para ela, o filme apresenta uma visão romântica e distorcida, que não condiz com a realidade vivida por muitas profissionais da área.

Reprodução fiel ou fantasia exagerada?

Emma destacou que algumas cenas iniciais do filme parecem bastante precisas, especialmente a rotina na boate. “Quando assisti às cenas do começo, achei que eram fiéis porque parecia estar no meu trabalho”, afirmou. No entanto, ela ressalta que o que incomoda não é a fidelidade, mas a forma como o enredo evolui, com uma glamourização que ela considera perigosa.

“Ela (Ani) fica tão sexualizada o tempo todo, como se essa fosse a única forma de se relacionar com o mundo — isso é uma fantasia masculina”, criticou. Segundo ela, essa representação reforça uma narrativa que associa sexo e dependência emocional de uma forma que ela não reconhece na sua experiência diária.

A representação de Ani e a tendência à romantização

Emma também aponta que a personagem principal, Ani, parece assumir um papel de ingenuidade, acreditando que um homem que conheceu na boate iria realmente querer estar com ela de forma genuína. “Isso é uma ilusão que não existe na nossa rotina. Nós sabemos que somos facilmente substituíveis, e que qualquer sentimento de amor é uma fantasia construída para agradar o cliente”, explicou.

Ela criticou ainda a cena do final, na qual Ani demonstra dor e desilusão após o relacionamento com Vanya. “As pessoas acham que mostrar dor é uma boa representação, mas na nossa realidade, o sofrimento vem de questões financeiras, de não sermos levadas a sério, e não de sexo em si”, afirmou. “Tudo isso reforça uma visão enviesada, quase um conto de fadas que só serve para alimentar o orgulho masculino.”

Percepção sobre os homens no setor

Emma ressaltou que uma grande parte dos homens que frequentam os clubes acreditam que são “bons caras”, tentando se mostrar diferentes do estereótipo do cliente abusivo. “Muitos pensam que vão conquistar a garota, que ela vai se apaixonar por eles, especialmente se forem jovens e bonitos”, comentou. Para ela, essa expectativa alimenta o ciclo de falsas promessas e expectativas irreais.

Ela também destacou a preocupação com a narrativa patente no filme, onde a mulher se apaixona por um homem que, na rotina real, é facilmente substituível. “A história reforça a ideia de que a mulher precisa de um homem para ser feliz, o que não condiz com a nosso realidade, onde buscamos independência e autonomia”, complementou.

Reflexões finais e impacto na sociedade

Emma criticou a forma como o cinema retrata a profissão de sexo por meio de emoções exageradas, que ela acredita serem mais falsas do que verdadeiras. “A indústria fatura em cima do sofrimento masculino, que pensa que a mulher está apaixonada, e do lado feminino, que muitas vezes é retratado como vítima”, disse.

Ela finalizou reforçando que a verdadeira vida das profissionais do sexo é muito mais dura e menos glamourosa do que a apresentada na produção. “Não somos as ricas, sexy, apaixonadas ou eternamente disponíveis. Nosso trabalho é sobre estabilidade financeira, respeito e, acima de tudo, não sermos reduzidas a um estereótipo de mulher sensual e desamparada.”

“O filme funciona porque alimenta uma fantasia que só favorece os interesses masculinos — e isso não representa quem realmente somos”, concluiu Emma.

*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.

***Nota: Emma prefere não usar seu nome verdadeiro para proteger sua privacidade e segurança.*

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