A recente peregrinação, organizada pela associação Amigos do Oriente Médio, trouxe à tona as histórias resilientes de Tur ‘Abdin, região do sudeste da Turquia, onde a comunidade cristã, predominantemente siro-ortodoxa, tenta preservar suas tradições e laços em meio a um cenário de massacres e emigração. Apesar de um passado difícil, os laços que unem os habitantes locais, como o ferreiro Cemil, são testemunhos de uma fé sólida que resiste ao tempo e à adversidade.
A resistência da comunidade cristã em Ömerli
Em Ömerli, um dos poucos vilarejos que ainda abriga cristãos, a situação é emblemática da realidade enfrentada por muitos nesta região. Cemil Akdemir, um ferreiro que representa sete gerações de sua família, decidiu permanecer em sua terra natal, apesar da tentação de emigrar. “Aqui temos nossas raízes e nossa identidade”, afirma. Com uma família composta por seus cônjuges e filhos, ele destaca a importância da igreja local, a de São Jorge, que se tornou o centro da vida comunitária.
Atualmente, a igreja está passando por processos de restauração, em grande parte financiados por remessas de emigrantes que ainda sentem uma forte conexão com sua terra natal. “A cada celebração, as autoridades civis prestigiam nossa festa, reconhecendo nosso papel na sociedade”, conta Cemil, visivelmente orgulhoso.
O valor da educação e do amor
Cemil ainda se preocupa com o futuro de seus filhos e sonha com uma educação que lhes dê melhores oportunidades. “Muitos jovens são atraídos para o exterior. A realidade aqui é dura, mas se houver amor, podemos viver”, reflete. Ele compartilha sua visão de esperança e solidariedade, impulsionando suas crianças a valorizarem o conhecimento e as suas raízes.
Em meio aos desafios cotidianos, a comunidade encontra consolo na fé. “Lemos o Evangelho juntos todos os sábados. A palavra de Deus é um guia”, destaca Cemil, ressaltando o papel fundamental da spiritualidade nas suas vidas.
A trajetória dos cristãos de Tur ‘Abdin
O cenário é complexo em Tur ‘Abdin, onde, de acordo com dados históricos, havia 43 vilarejos cristãos até há cem anos. Com a drástica redução da população, a luta pela preservação da herança cultural se intensifica. Monsenhor Paolo Bizzeti, guia da peregrinação, observa que a união entre os cristãos não deve ser apenas uma questão emocional, mas uma verdade vivida através do testemunho.
“Devemos nos lembrar que uma fé apenas sentimental não resiste a choques. Nossa força vem da partilha da Boa Nova”, afirma Bizzeti, sublinhando a importância de construir não apenas edificações, mas comunidades de fé e amor.
Desafios da diáspora e sonhos de futuro
Durante a peregrinação, também foram ouvidas as vozes de jovens locais, ansiosos para estudar e buscar oportunidades fora, mas conscientes das dificuldades para emigrar. “Queremos estudar, queremos nos tornar professores e trazer nosso conhecimento de volta”, explica uma das jovens da comunidade, refletindo os anseios de uma geração sedenta por novas possibilidades.
As memórias de um passado próspero contrastam com a luta diária por sobrevivência. Apesar da situação complicada, as famílias permanecem unidas em sua luta. “Estamos aqui, tentando manter a nossa cultura e tradições vivas. Nunca desistiremos de voltar a ver a nossa terra florescer”, conclui um dos anciãos da comunidade.
Com a continuidade dessa peregrinação e o olhar esperançoso de quem fica, a história da resistência cristã em Tur ‘Abdin ressoa como um testemunho do valor da fé e da comunidade em tempos de adversidade. A luta se estende além das fronteiras físicas, ecos de um passado que ainda vive nos corações de seus habitantes.
Este artigo é parte de uma série de quatro publicações que relatam a peregrinação organizada pela Associação dos Amigos do Oriente Médio. A próxima parte está prevista para ser publicada em breve.