O delegado Allan Turnowski, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, deixou a prisão nesta terça-feira (17/6), após determinação do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ). Ele estava detido desde o dia 6 de maio deste ano, acusado de envolvimento com o jogo do bicho. A decisão do tribunal representa um marco na controversa trajetória de Turnowski, que já liderou a instituição em duas ocasiões e sempre foi uma figura proeminente na segurança pública do estado.
Decisão e medidas cautelares
A decisão que permitiu a liberdade de Turnowski foi assinada pelo desembargador Marcius da Costa Ferreira, da Sétima Câmara Criminal. O magistrado impôs uma série de medidas cautelares para que o delegado possa responder ao processo em liberdade. Entre as restrições estabelecidas, destacam-se a entrega do passaporte à Justiça e a proibição de deixar o país. Além disso, Turnowski está impedido de entrar em unidades da Polícia Civil e da Secretaria de Segurança Pública do Rio, assim como não pode manter contato com os demais investigados no caso.
O desembargador argumentou que Turnowski tem colaborado com as investigações e não apresenta, até o momento, comportamento que indique tentativa de obstrução. “Não houve qualquer registro nos autos que demonstre intenção de atrapalhar as apurações”, afirmou na decisão. Ele ressaltou que os crimes atribuídos a Turnowski, embora graves, não envolvem violência, o que pode ter influenciado a decisão favorável ao ex-chefe da Polícia Civil.
Em trecho da decisão, o desembargador afirmou: “Vale registrar, ademais, que os crimes imputados ao paciente, embora graves e possam estar conexos a outros de natureza diversa, foram cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa. Diante disso, defiro o pedido liminar, determinando a imediata liberdade do paciente até o julgamento final do habeas corpus”.
Quem é Allan Turnowski
Allan Turnowski, de 54 anos, foi preso sob suspeita de envolvimento com o jogo do bicho. Durante sua carreira, ele já comandou a Polícia Civil do Rio de Janeiro em duas ocasiões distintas. Reconhecido por seu discurso de “tolerância zero” na segurança pública, Turnowski deixou recentemente o posto de chefe da polícia para buscar uma vaga como deputado federal, recebendo apoio do governador Cláudio Castro e se filiando ao Partido Liberal (PL) para concorrer nas próximas eleições.
Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, Turnowski é suspeito de receber propinas de operadores do jogo do bicho e pode estar envolvido no planejamento do assassinato do contraventor Rogério de Andrade. Sua última gestão à frente da Polícia Civil foi marcada pela operação no Jacarezinho, em 2021, onde ocorreram 28 mortes, fato que continua a ser objeto de intensos debates sobre a legitimidade da atuação policial.
Histórico na Polícia Civil
Turnowski já havia comandado a Polícia Civil entre 2009 e 2011, período em que coordenou a retomada do Complexo do Alemão. Um dos eventos mais memoráveis de sua gestão foi a transmissão ao vivo da fuga de traficantes da Vila Cruzeiro durante uma ocupação policial.
Ele recebeu, em 2019, a Medalha Tiradentes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), em reconhecimento aos seus esforços na condução de operações policiais durante sua carreira, principalmente na primeira década dos anos 2000. Além disso, entre 2003 e 2009, Turnowski coordenou todas as delegacias especializadas do Rio, o que consolidou sua reputação como um líder forte e ativo na segurança pública.
Desafios e investigações
Esta não é a primeira vez que Turnowski se vê envolvido em controvérsias. Em 2011, ele deixou a chefia da Polícia Civil após a Operação Guilhotina, que resultou na prisão de vários policias civis e militares por suposto envolvimento com tráfico de informações para o crime organizado. No ano seguinte, ele também se afastou da polícia para atuar na Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) do Rio.
Ao longo de sua carreira, Turnowski acumulou mais de 30 condecorações, incluindo moções de aplauso e medalhas, refletindo seu impacto na segurança pública do estado. Entretanto, sua trajetória não é isenta de controvérsias e desafios, que agora se ampliam com as acusações relacionadas ao jogo do bicho.
Com sua recente liberdade, as atenções se voltam novamente para o ex-chefe da Polícia Civil, que agora enfrenta um futuro incerto enquanto o processo judicial avança.
