Após a decisão da Supreme Court dos Estados Unidos em 2022 que restringiu o acesso ao aborto, registros de aumento na violência entre parceiros íntimos foram observados em diversos estados. Segundo um estudo recente do National Bureau of Economic Research, essa violência cresceu de 7% a 10% em condados onde o acesso ao aborto ficou mais difícil em 2023 em comparação a 2017, causando aproximadamente 9 mil incidentes adicionais.
Impacto das restrições ao aborto na violência conjugale
A pesquisa aponta que as limitações ao aborto elevam a violência doméstica por diversas razões. As mulheres enfrentam maior dificuldade financeira, já que muitas precisam se afastar do trabalho e viajar até 241 milhas a mais para obter o procedimento, elevando custos e estresse. Além disso, as restrições reduzem as opções das mulheres, potencializando riscos à saúde física e mental, o que pode impulsionar comportamentos violentos, incluindo abuso e agressões.
O estudo destaca também que mulheres grávidas apresentam 16% mais chances de morte por homicídio do que aquelas não grávidas, evidenciando o aumento do risco de violência. Restrição ao aborto também prende mulheres a parceiros violentos, agravando a situação. O projeto Turnaway, que acompanhou mulheres impedidas de realizar abortos devido a limitações, revelou que essas mulheres sofrem mais violência e têm maior risco de pensamentos suicidas, em comparação àquelas que conseguiram interromper a gravidez.
Vulnerabilidade social e aumento da violência
Dados coletados indicam que áreas com menor nível de escolaridade e renda tiveram aumento mais expressivo na violência de relacionamento, sinalizando que populações vulneráveis são as mais afetadas pelas restrições ao aborto. Especialistas afirmam que esse aumento na violência era esperado, uma vez que leis restritivas facilitam a ocorrência de coerção reprodutiva, na qual parceiros usam táticas de controle para influenciar as decisões reprodutivas sem consentimento.
Consequências sociais e econômicas
O estudo estima que o aumento na violência resulte em custos sociais de aproximadamente US$ 1,24 bilhão, refletindo gastos com saúde, assistência social e processos judiciais. Especialistas alertam para a necessidade de compreender o impacto dessas leis não apenas na saúde reprodutiva, mas também na integridade física e psicológica das mulheres.
Perspectivas futuras
Pesquisadores enfatizam que a associação entre restrições ao aborto e o aumento da violência conjugal demanda atenção de políticos e comunidades, para desenvolver políticas de proteção às vítimas e garantir acesso a direitos reprodutivos. O estudo reforça a importância de ampliar o debate sobre as consequências secundárias de leis restritivas nos direitos humanos e na saúde pública.