A solidão sempre foi considerada uma vilã quando se trata da saúde dos idosos. Entidades de saúde pública comparam o isolamento social a fumar 15 cigarros por dia e, diversas pesquisas estabeleceram uma relação direta entre a solidão e a mortalidade precoce. No entanto, um surpreendente estudo envolvendo quase 400 mil idosos em três países trouxe à tona uma nova perspectiva, desafiando a sabedoria convencional sobre os efeitos da solidão.
Resultados inesperados entre idosos
Pesquisadores da Universidade de Waterloo, no Canadá, observaram que idosos que recebem cuidados em casa na Nova Zelândia, Finlandia e Canadá apresentaram um risco de morte de 18% a 23% menor após um ano, se comparados a seus pares que relataram não se sentir solitários. Essa população envolve os mais vulneráveis que necessitam de assistência em atividades diárias e que ainda vivem em suas próprias casas.
No estudo, cerca de 16% a 24% dos idosos atendidos relataram se sentir solitários, com a Nova Zelândia apresentando a maior taxa. Curiosamente, o estudo constatou que as mulheres tinham maior probabilidade de declarar solidão, e as taxas aumentavam com a idade em todos os países observados.
Por que isso é relevante?
O Dr. Bonaventure Egbujie e sua equipe não esperavam desafiar a sabedoria convencional ao analisar dados de mortalidade entre idosos que recebem cuidados em casa. O estudo se destaca ao revelar que a relação entre solidão e mortalidade pode não ser tão direta quanto se pensava. As evidências sugerem que a solidão pode ser uma consequência de problemas de saúde deteriorando, em vez de um fator contribuinte para a morte.
A pesquisa seguiu 383.386 idosos por um ano, analisando os registros de falecimento ao longo do tempo e considerando diversos fatores que podem influenciar o risco de mortalidade — como idade, gênero, condições de saúde e funcionalidade cognitiva. Após essa análise, as taxas de mortalidade mostraram que os participantes solitários tinham índices de sobrevivência mais altos do que os não solitários.
Interpretações alternativas sobre a solidão
Uma hipótese apresentada pelo estudo é que a solidão pode gerar um efeito saudável em algumas circunstâncias. Assim, pode ser que idosos saudáveis que estão mais isolados socialmente ainda assim não enfrentem risco elevado de mortalidade. Ao contrário, aqueles em saúde em declínio podem não perceber ou relatar sua solidão, comprometendo a avaliação de sua saúde em geral.
Além disso, outro ponto relevante levantado pelos pesquisadores é a possibilidade de que idosos solitários recebam mais assistência médica simplesmente devido à sua condição. Com visitas regulares de enfermeiros e terapeutas, essa interação pode fornecer um suporte social que ajuda a proteger a saúde dessas pessoas, atuando como uma rede de apoio importante para os mais vulneráveis.
A importância da qualidade de vida
Os resultados do estudo não minimizam a relevância das questões relacionadas à solidão entre idosos. Os pesquisadores enfatizam que a solidão é um aspecto crucial da qualidade de vida e merece atenção, independentemente de suas complexas implicações na mortalidade. “A solidão é uma ameaça séria ao bem-estar psicológico. As consequências da solidão para a saúde mental são uma prioridade importante para a saúde pública”, afirma o Dr. John Hirdes, coautor do estudo.
É importante, portanto, que equipes de cuidados se concentrem em ações que melhorem a qualidade de vida dos idosos, tornando maior o foco sobre intervenções que abordem seu bem-estar emocional. O entendimento do papel da solidão para esses indivíduos pode abrir novos caminhos na formulação de políticas de saúde e na atuação de profissionais que assistem essa população.
Metodologia do estudo
Os pesquisadores realizaram a análise utilizando dados de avaliação padronizados de idosos que recebem cuidados domiciliares no Canadá, Finlândia e Nova Zelândia entre 2010 e 2020. Todos os participantes tinham 65 anos ou mais e não apresentavam diagnóstico terminal, com funcionamento cognitivo adequado para relatórios confiáveis. A partir disso, os resultados indicaram que a solidão, em muitas situações, não estava necessariamente ligada a um elevado risco de morte.
Esses achados foram publicados no Journal of the American Medical Directors Association, levantando novas questões sobre a percepção da solidão entre os idosos e suas potenciais implicações na saúde.
Este estudo serve como um amplo campo para debate entre pesquisadores e especialistas em saúde, podendo reconfigurar as abordagens atuais sobre a solidão e seu impacto na população idosa.
Acesse os detalhes do estudo completo através do link aqui.