A Igreja Católica está prestes a celebrar o Jubileu Ordinário de 2025, um momento propício para refletir sobre a esperança que a mensagem do Evangelho traz à humanidade. Em tempos sombrios, como aqueles marcados por guerras e incertezas, a figura do Papa João XXIII se destaca como um símbolo de otimismo e renovação, correspondente ao que ele mesmo chamou de “aggiornamento”. Este conceito, que significa atualização, foi um dos pilares de sua visão para a Igreja e sua missão no mundo contemporâneo.
A esperança como mensagem central
O Padre Gerson Schmidt, em suas reflexões, destaca o papel essencial de João XXIII no Concílio Vaticano II, um evento histórico que promoveu mudanças profundo na Igreja. O Papa Roncalli, frequentemente chamado “o Papa da Esperança”, acreditava na capacidade da Igreja de se conectar com o mundo moderno. Ele via a esperança como uma força vital, capaz de inspirar e guiar a construção de um futuro melhor.
Na Bula “Humanae Salutis”, de 1959, João XXIII fez um apelo urgente para que a Igreja discernisse “os sinais dos tempos” e se preparasse para trazer luz à escuridão que cercava a sociedade. Ele escreveu: “Pois mesmo as guerras sangrentas que se seguiram em nossos tempos… não se processaram sem deixar úteis ensinamentos”. Esse reconhecimento do contexto histórico e social era essencial para sua missão, que visava mostrar à humanidade que, apesar das dificuldades, existia um caminho para a paz e a reconciliação.
O Concílio Vaticano II: um marco na renovação da Igreja
O Concílio Vaticano II, iniciado em 1962, foi um momento-chave na história da Igreja. O discurso inaugural de João XXIII ressoou fortemente entre os presentes. Ele se referiu à Igreja como “uma assembleia destinada a tornar a Igreja presente no mundo”, destacando a sua capacidade de dialogar com as novas realidades sociais e tecnológicas do século XX. O Papa enfatizou a importância de sua mensagem para a razão e o coração do homem, sinalizando uma novidade no abordamento da Igreja em relação ao mundo.
A importância do “aggiornamento”
O “aggiornamento” promovido por João XXIII buscava não apenas adaptar as práticas da Igreja ao mundo contemporâneo, mas também revitalizar a mensagem cristã para que ela ressoasse com as necessidades atuais da sociedade. No discurso de abertura do Concílio, ele disse: “A Igreja, como esperamos confiadamente, crescerá em riquezas espirituais… e olhará intrépida para o futuro”. Essa visão de um futuro mais luminoso é um dos legados mais destacados de João XXIII.
Teólogos e o impacto da mensagem de João XXIII
Teólogos contemporâneos, como os da PUC/RS, mencionam que o discurso de abertura do Concílio causou uma sensação de renovação. A linguagem de esperança utilizada pelo Papa não apenas buscava a transformação da Igreja, mas também refletia o desejo de relação harmoniosa com a sociedade, um diálogo sincero e aberto. Ele viu a era moderna como uma oportunidade, não uma ameaça, e isso fez ressoar o eco de suas convicções até os dias de hoje.
O Papa Francisco, ao canonizar João XXIII, ressaltou como ele colaborou com o Espírito Santo para atualizar a Igreja. Sua docilidade e abertura ao Espírito foram elementos que possibilitaram uma trajetória de transformação significativa.
Reflexões atemporais sobre a paz
Anna fonte de esperança, João XXIII também é lembrado por sua Carta Encíclica “Pacem in Terris”, onde discutiu a necessidade de um fundamento de paz que deve ser construído sobre verdade, justiça e caridade. A frase “a paz permanece palavra vazia de sentido, se não se funda na ordem”, reflete a necessidade de uma base sólida para a convivência pacífica entre os povos e nações.
Seus ensinamentos continuam a inspirar não apenas católicos, mas todos aqueles que buscam um futuro onde a fraternidade, a justiça e a paz sejam possíveis. Ao revisitar as mensagens dos Papas, especialmente em um ano jubilar dedicado à esperança, é essencial recordar as contribuições de João XXIII e reconhecer a luz que ele trouxe a um mundo muitas vezes envolto em trevas.
*Padre Gerson Schmidt é graduado em Filosofia e Teologia, além de possuir uma formação em Jornalismo com Mestrado em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.