Brasil, 18 de junho de 2025
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O fantasma de Átila e o labirinto de Rafael Fonteles

A história, essa senhora vingativa, adora repetir seus melhores capítulos com novos atores — geralmente mais vaidosos e menos preparados. Em 1994, Átila Lira, empoleirado no topo da máquina estatal, com o PFL aos seus pés e um séquito de bajuladores em volta, era tratado como governador eleito por antecipação. Perdeu para Mão Santa com o estrondo de uma porta batida no ego. Foi deixado sozinho. Os deputados correram para salvar suas próprias peles. Os prefeitos fugiram como ratos de navio em chamas. A base aliada virou base aérea — decolou e sumiu.

Trinta anos depois, Rafael Fonteles, o menino-prodígio das planilhas, parece ter feito matrícula no mesmo curso de ilusão política. Está sentado no trono, mas cercado por assessores formados no Colégio Dom Barreto e diplomados em autoengano. Atribuem a si a vitória de 2022, como se Wellington Dias — com quatro mandatos de governador, musculatura nacional e controle absoluto da máquina — tivesse sido um figurante. Esquecem que a velha guarda ainda move os tabuleiros, mesmo quando se cala.

A articulação política do governo Rafael é uma sala de espelhos rachados: ninguém se vê inteiro, e todos acham que estão comandando algo. Deputados estaduais e federais — preocupadíssimos com suas reeleições — já sinalizam que, se tiverem de escolher entre o projeto do governador e o deles, a lealdade vai sumir como café em repartição pública. A eleição para o Senado é a disputa real. A cadeira mais desejada. E, nesse teatro, Rafael é apenas o zelador do palco, não o diretor da peça.

Marcelo Castro, uma múmia ungida por Wellington, e Júlio César, o cangaceiro da planilha, se enfrentam nos bastidores com punhais sorridentes. Já Ciro Nogueira, eterno sobrevivente do pântano, assiste com um sorriso de tubarão que fareja sangue no açude. A base está rachada, desorientada e — pior — sem liderança. O governador, enquanto isso, distribui sorrisos em podcasts e inaugura asfalto como se o povo ainda se deslumbrasse com 200 metros de calçamento e selfie.

A cereja podre do bolo é Lula. O maior cabo eleitoral do PT começa a apodrecer em praça pública. Sua aprovação no Piauí, antes sólida como missa de domingo, derrete como vela em procissão no sol. Se o PT não consegue vencer em Teresina com toda a máquina, com verba, com ministérios, imagine disputar a reeleição de Rafael em meio a esse pandemônio de vaidades e traições.

Rafael Fonteles está perigosamente perto de repetir Átila Lira: cercado por gente que diz “sim” e já procura a porta de saída. A diferença é que, enquanto Átila caiu por confiar demais em caciques, Rafael pode cair por confiar demais nos colegas de escola. E escola, na política, não forma líderes. Forma obedientes.

Que o governador abra os olhos. Ou será lembrado não como sucessor de Wellington, mas como seu erro final.

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