A análise do Atlas de Mobilidade Social mostra que quase metade (49%) dos brasileiros de uma determinada geração está atualmente em melhor situação financeira que seus pais. No entanto, esse indicador revela, também, que o Brasil enfrenta dificuldades profundas na mobilidade social, especialmente ao se fazer recorte racial, evidenciando que o racismo estrutural impõe obstáculos adicionais àqueles que partem de condições mais vulneráveis.
Desigualdade e baixa mobilidade no Brasil
Segundo o estudo “Mobilidade intergeracional na terra da desigualdade”, de 2022, realizado por pesquisadores como Diogo Brito e Breno Sampaio, o Brasil ocupa uma posição negativa fora da curva em relação à mobilidade social, comparado a países como os Estados Unidos e Suécia. Enquanto nos EUA cerca de 7,5% dos pobres conseguem ascender às camadas mais privilegiadas, no Brasil esse percentual é de apenas 2,5%. Na Suécia, esse índice chega a 15,7%, refletindo uma desigualdade ainda maior no país.
Impacto de políticas públicas na inclusão social
Dados do IMDS (Instituto de Ensino e Pesquisa em Desenvolvimento Social) mostram que políticas como a ampliação do acesso à educação e programas sociais, como o Bolsa Família, têm contribuído para melhorar os níveis de mobilidade. Um estudo recente, que acompanhou beneficiários do programa entre 2005 e 2019, revelou que, aos 21 a 30 anos, apenas 20% ainda estavam no Bolsa Família, e 64% já não estavam cadastrados no Cadastro Único.
Desafios na formação de uma nova geração
Apesar do aumento no número de brasileiros que conseguem ingressar no ensino superior, a baixa mobilidade social gera um cenário de frustração, especialmente entre aqueles que investiram na educação de seus filhos, muitas vezes com esforço considerável. Segundo reportagem da Globo, ter um diploma universitário deixou de ser garantia de ascensão, levando a sentimentos de insatisfação e ressentimento, fatores que alimentam movimentos autoritários e discursos antimodernidade.
Educação e desigualdade: avanços e limitações
O livro “Os ricos e os pobres”, de Marcelo Medeiros, discute que, embora a expansão das matrículas no ensino superior seja evidente, a desigualdade só será realmente reduzida se houver democratização no acesso a cursos de maior prestígio. Estudos internacionais demonstram que o aumento da escolaridade está associado a melhorias em saúde, produtividade e renda, mas ainda não garante qualidade de ensino para todos, reforçando a necessidade de reformas no sistema educacional brasileiro.
Perspectivas e caminhos para a mobilidade social
A responsabilidade de ampliar as oportunidades não pode recair apenas na educação. Políticas públicas que atuem no mercado de trabalho, na rede social e tributária são essenciais para combater as raízes da exclusão. Como aponta o estudo de Valdemar Neto e Vinícius Schuabb, estratégias que busquem a ascensão social de maneira intencional precisam orientar o desenvolvimento do país para reduzir as desigualdades históricas e raciais.
Para superar esses obstáculos e promover uma mobilidade social mais ampla e justa, a implementação de políticas integradas e o fortalecimento da educação de qualidade universal permanecem como prioridades. O país ainda tem um longo caminho a percorrer para efetivar uma sociedade mais equitativa e com oportunidades iguais para todos.
Fonte: O Globo