Brasil, 17 de junho de 2025
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Flash de lucidez no fim da vida: um debate sobre a consciência

Testemunhos de lucidez momentânea em pacientes terminais desafiam a visão materialista da mente.

Em um relato comovente, uma mulher alemã descreve o momento em que sua mãe, com Alzheimer avançado, finalmente a reconheceu no dia anterior à sua morte. Esse episódio é um exemplo do que se tem chamado de “lucidez terminal”, um fenômeno raro em que pessoas com severas condições cognitivas parecem recuperar temporariamente clareza mental.

Entendendo a lucidez terminal

Alexander Batthyány, diretor do Instituto Viktor Frankl em Viena, tem se aprofundado nesse fenômeno pouco estudado. Em seu livro Threshold, ele relata casos como o da mulher mencionada, destacando que até 6% das pessoas que pareciam estar permanentemente inconscientes podem experienciar esse retorno momentâneo à lucidez. Batthyány acredita que tais casos desafiam a noção atual de que a mente é apenas uma propriedade emergente do cérebro, sugerindo que a consciência pode persistir mesmo após danos cerebrais significativos.

Desafiando o materialismo

Batthyány critica o que chama de “materialismo ingênuo”, que liga funções como a memória a áreas específicas do cérebro. Para ele, à medida que se aproxima do fim, essa visão precisa ser reconsiderada. “Existiria uma consciência etérea protegida durante a vida, que ressurgiria nos momentos finais, livre das amarras da matéria”, afirma. Essa perspectiva propõe que as experiências de quase-morte (EQMs) e os eventos de lucidez terminal possam indicar um tipo de consciência que vai além do cérebro físico.

Testemunhos e estudos

Ainda que haja pouca evidência científica robusta para apoiar essas teorias, Batthyány admite que muitos de seus estudos dependem de relatos retrospectivos, considerados por muitos como evidências de baixa qualidade. Enquanto isso, pesquisas como o estudo seminal de Pim van Lommel publicado na revista The Lancet em 2001 versam sobre a dualidade da consciência e estimulam o interesse de cientistas convencionais, como o Grupo de Ciência do Coma da Universidade de Liège.

O modelo NEPTUNE

Recentemente, o grupo belga publicou um modelo neurofisiológico chamado NEPTUNE, que tenta explicar as EQMs por meio de processos neurofisiológicos e psicológicos que ocorrem em situações críticas. O modelo sugere que a privação de oxigênio pode elevar neurotransmissores como serotonina e dopamina, levando a experiências vívidas e à sensação de separação do corpo. Essas descobertas proporcionam uma base para que cientistas conduzam experimentos rigorosos que poderiam elucidar este mistério.

Experiências não só na beira da morte

Embora muitos relatem essas experiências durante momentos próximos da morte, a pesquisa de Charlotte Martial mostra que experiências semelhantes podem ser induzidas de outras formas, como pela estimulação elétrica de certas áreas do cérebro ou pelo uso de substâncias psicodélicas. Em um estudo recente, 36% dos participantes experimentaram sensações que se alinham com as descrições de EQMs.

Iniciativas em busca de respostas

Na Espanha, o Projeto Luz é uma iniciativa que investiga os efeitos a longo prazo das EQMs em pessoas que foram reanimadas após paradas cardíacas. Dr. Luján Comas, líder do projeto, relata que muitos pacientes relatam sentir amor e paz, além de visões de pessoas falecidas. “Essas experiências muitas vezes mudam valores e perspectivas sobre a vida”, explica. Entretanto, Comas e outros pesquisadores reconhecem que a ideia de consciência independente do cérebro ainda é uma hipótese a ser confirmada.

O que a física quântica pode nos ensinar?

A intersecção entre ciência e espiritualidade leva alguns a explorar conceitos da física quântica para compreender fenômenos como a lucidez terminal e as EQMs. No entanto, especialistas como Alberto Casas enfatizam que a física quântica não pode ser utilizada para explicar esses fenômenos, destacando que as propriedades quânticas não se aplicam a sistemas macroscópicos, como o cérebro humano.

O papel da esperança nas experiências de EQMs

Embora muitos defendam a interpretação dualista das experiências de quase-morte, a posição materialista continua a prevalecer no campo científico. No entanto, a busca por provas que harmonizem intuições espirituais com a razão permanece intensa. Para aqueles como Comas, as EQMs oferecem esperança, crispando a angústia relacionada à morte, promovendo uma percepção de continuidade após a vida.

Em última análise, enquanto as investigações científicas e espirituais continuam, o desejo humano pela compreensão do que acontece após a morte e a necessidade de consolo se mostram indefiníveis e perpétuos.

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