O desfile militar realizado no último sábado em Washington, D.C. não foi apenas uma exibição das forças armadas dos Estados Unidos, mas também um evento repleto de simbolismos e controvérsias. Ao celebrar seu 79º aniversário em uma cerimônia que visava enaltecer o 250º aniversário do Exército, Donald Trump se viu no centro de uma divisão política acentuada.
Alegações de retórica militarista
No evento, Trump se absteve de qualquer mensagem partidária explícita, embora tenha mencionado de maneira implícita sua famosa exortação “Lutem! Lutem! Lutem!”, recordando um ataque de assassinato sofrido no ano anterior. “Os inimigos da América aprenderam, vez após vez, que se ameaçarem o povo americano, nossos soldados virão atrás de vocês”, afirmou o ex-presidente. “Sua derrota será certa. Sua queda será total e completa — porque nossos soldados nunca desistem, nunca se rendem e nunca desistem. Eles lutam, lutam, lutam e vencem, vencem, vencem”, completou.
Dia sombrio para a política americana
O desfile de Trump ocorreu em um dia marcado pela violência, quando uma legisladora estadual de Minnesota e seu marido foram assassinados, e outro legislador e sua esposa foram feridos em um ataque que as autoridades classificaram como “motivado politicamente”. Essa tragédia trouxe um peso adicional ao evento, que já enfrentava críticas por seu significado e os altos custos envolvidos, que podem ter atingido até US$ 40 milhões.
Protestos em resposta ao evento
Atraindo uma multidão significativa, os protestos contra o desfile ocorreram em várias cidades, incluindo Nova York, Filadélfia e Los Angeles, onde os manifestantes usaram o grito de guerra “Sem reis”. Esses atos de descontentamento refletiram uma preocupação mais ampla entre setores da sociedade sobre a glorificação de figuras individualistas em detrimento dos valores constitucionais e democráticos.
Desafios logísticos e clima inóspito
O evento também enfrentou desafios logísticos, com o clima adverso criando dificuldades. O início do desfile foi antecipado em meia hora devido à chuva leve e ventos fortes. Mesmo assim, os tanques avançaram pela Constituição Avenue, acompanhados por centenas de espectadores que ainda enfrentavam filas para entrar no espaço do evento, enquanto os helicópteros sobrevoavam a multidão.
Apesar de algumas exibições planejadas terem sido canceladas, o público agradeceu a exibição aérea, demonstrando que, embora o clima não tenha sido colaborativo, a presença das forças armadas continuou a impressionar.
Críticas ao culto à personalidade
Suspeitas sobre a verdadeira motivação do desfile se agravaram, com muitos críticos argumentando que a celebração era mais sobre Trump do que sobre as forças armadas. O represente Adam Smith expressou desconforto com o fato de que a celebração ocorreu no aniversário de Trump, afirmando que “não fazemos isso na América. Nós não celebramos líderes individuais. Celebramos a Constituição e o país”.
O anseio de Trump por um desfile militar
Trump sempre teve um desejo por um desfile militar, inspirado pela celebração do Dia da Bastilha que presenciou em Paris em 2017, durante o início de seu último mandato. A sua equipe havia adiado a ideia devido a questões de custos e à raridade desse tipo de espetáculo, o último ocorrido em 1991, após a primeira Guerra do Golfo. O desejo de Trump se concretizou, mas não sem críticas e protestos que ressaltaram as divisões no país.
Com sua presença ao lado da primeira-dama Melania Trump e do Secretário de Defesa Pete Hegseth, Trump foi aplaudido pela multidão presente, mas os ecos de discontentamento ainda reverberaram nas ruas de cidades por todo o país.
Ao final, o desfile militar tornou-se não só uma celebração das forças armadas, mas também um sintoma das profundas divisões políticas e sociais que caracterizam os dias atuais nos Estados Unidos.