De janeiro a abril deste ano, o Brasil recebeu 2,1 milhões de turistas argentinos, quase o dobro do registrado no mesmo período de 2024, segundo dados da Embratur. O aumento reflete uma forte retomada do fluxo de visitantes, impulsionada pelo câmbio favorável e mudanças na dinâmica econômica da Argentina, que elevam o interesse pelo país vizinho.
Impacto no comércio, hotelaria e eventos
Esse movimento representou um incremento significativo nas vendas e na ocupação hoteleira, especialmente no Rio de Janeiro, Florianópolis e outros destinos turísticos. Segundo Guilherme Marques, diretor da Accor Américas, as reservas feitas por argentinos nos primeiros meses do ano dobraram em relação a 2024. “A procura por hotéis de perfil econômico tem sido intensa, e o movimento de argentinos nos nossos estabelecimentos cresce a cada ano”, afirma.
O crescimento acompanha o aumento de compras por argentinos no Brasil. Em Florianópolis, por exemplo, as vendas nos principais shoppings tiveram alta de até 22% de janeiro a abril, impulsionadas pelo aumento no turismo de compras. “Os argentinos gastaram cerca de 35% a mais do que a média dos demais visitantes na temporada passada, especialmente na moda e artigos esportivos”, explica Hélio Dagnoni, presidente da Fecomércio SC.
Levante na demanda por férias e eventos internacionais
O impacto mais visível do fluxo argentino é durante eventos de destaque. No litoral catarinense, os turistas argentinos representaram quase 29% dos visitantes no verão, com gastos de aproximadamente R$ 12.650 por grupo, indicando maior poder de compra devido à valorização do peso frente ao real.
O cenário também se reflete na forte movimentação de reservas de hospedagem para grandes eventos, como o show de Lady Gaga no Rio, onde argentinos lideraram o número de hóspedes internacionais via Airbnb. Durante o carnaval, eles estavam entre as cinco nacionalidades mais buscadas pelos viajantes no Rio de Janeiro.
Mudanças econômicas na Argentina e efeitos no fluxo
A recente política econômica do governo do presidente Javier Milei provocou uma inversão na tendência. Segundo dados do Indec, de janeiro a abril, a Argentina recebeu 3,3 milhões de visitantes internacionais, queda de 25% comparada ao mesmo período de 2024, enquanto 8,4 milhões de argentinos viajaram ao exterior, aumento de 67,6%. O aumento dos preços internos e a valorização do peso argentino motivam esse deslocamento para o Brasil e outros países.
Hernán Letcher, do Centro de Economia Política Argentina, explica que esse movimento reflete a valorização cambial do peso e o efeito de incentivo aos argentinos de saírem do país, já que comprar produtos no Brasil fica mais barato do que aqui, levando a uma maior procura por bens e serviços estrangeiros.
Expectativas e perspectivas para o setor
Especialistas e empresários estimam que a tendência de fluxo argentino deve continuar forte pelo menos até o próximo verão. O CEO do Airbnb aponta que o Brasil deve se consolidar como um dos maiores destinos para argentinos na América do Sul, enquanto o setor de hotelaria e comércio seguem otimistas com o aumento da demanda, sobretudo nas regiões turísticas do Rio, Florianópolis, São Paulo, e no litoral catarinense.
Morgan Peres, da Decathlon em Florianópolis, ressalta que as vendas para turistas argentinos neste verão superaram os melhores picos anteriores, com aumento de 140% no faturamento, reforçando o movimento de crescimento e o fortalecimento do Brasil como destino estratégico para os visitantes de nosso país vizinho. Além disso, a implementação de sinalização bilíngue e equipes que falam espanhol ajuda a consolidar o bom desempenho.
Com o cenário econômico favorável e a recuperação do turismo internacional, espera-se uma manutenção do fluxo argentino, que reforça o potencial do Brasil como destino de lazer, compras e eventos até o fim do ano.
Fonte: O Globo
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