A segurança pública em São Paulo está no centro de uma crise política, marcada pela resistência de delegados e pela busca de um novo secretário após possíveis mudanças no comando da Segurança Pública. O atual secretário, Guilherme Derrite, já admitiu a possibilidade de deixar o cargo ainda este ano, em meio a movimentações eleitorais e à expectativa da votação da PEC da Segurança Pública em Brasília.
Desafios enfrentados por Tarcísio de Freitas e sua gestão
Desde o início de seu mandato, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem enfrentado desgastes nas relações com a Polícia Civil. Uma das ações controversas foi a proposta de reajuste salarial voltada para as Forças de Segurança, que, segundo os policiais civis, priorizou a Polícia Militar em detrimento das necessidades das delegacias. Este fator gerou queixas sobre equipe reduzida e condições de trabalho consideradas “abusivas” em algumas unidades.
Além disso, críticas de representantes da categoria indicam que a estrutura das delegacias está em estado precário. O deputado federal Delegado Palumbo (MDB-SP) expressou preocupação com a desigualdade nas condições dos veículos utilizados pelas diferentes corporações, questionando: “Por que as viaturas da PM são sempre melhores que as nossas?” Essa falta de recursos e valorização tem gerado um clima tenso entre as forças de segurança.
Impasse na nomeação do novo secretário
A possível nomeação de Alexandre Streifinger, atual titular da Secretaria da Administração Penitenciária, para suceder Derrite também não é bem vista por muitos na Polícia Civil. Os críticos apontam que sua gestão à frente da Administração Penitenciária tem sido marcada por episódios controversos, incluindo um inquérito por abuso de autoridade. Durante sua gestão, houve uma sindicância envolvendo a retenção de armas de agentes penitenciários que gerou descontentamento significativo.
O delegado André Pereira, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, opinou que a troca de Derrite por Streifinger não resolveria as tensões entre as corporações. “Quando Derrite foi anunciado, nós demos um voto de confiança, mas ele não cumpriu. Não vamos cometer o mesmo erro”, afirmou o delegado, que reforçou a necessidade de atender às reais demandas da Polícia Civil.
Alternativas e perspectivas para a Segurança Pública em SP
Dentro desse cenário complicado, alguns deputados apontam alternativas viáveis para a posição de secretário de Segurança Pública. O deputado Delegado Olim (PP) sugeriu o nome do doutor Osvaldo Nico Gonçalves, atual número dois da SSP, como uma opção que poderia trazer estabilidade e continuidade ao cargo. Olim reconhece que Nico é respeitado dentro da corporação e possui a confiança do governador, embora o governo não enxergue seu nome como uma forte possibilidade no momento.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) tem buscado mostrar que está empenhada em valorizar as Forças de Segurança e melhorar as condições de trabalho dos policiais. Em nota, foi destacado que a gestão atual já promoveu a maior contratação de novos policiais em 14 anos, com cerca de 9.100 novos agentes incorporados, e investimentos significativos na modernização das unidades da Polícia Civil.
Contudo, apesar desses esforços, a insatisfação entre os servidores persiste. Funcionários da Administração Penitenciária relataram uma falta de diálogo com Streifinger, o que tem contribuído para a percepção de desprestígio dentro da categoria. A gestão da segurança pública no estado, portanto, enfrenta um delicado equilíbrio entre cumprir com as demandas financeiras e operacionais e manter um relacionamento produtivo com as diferentes forças que a compõem.
Em meio a essa turbulência, as próximas decisões sobre a liderança da Segurança Pública em São Paulo serão cruciais para o futuro da política de segurança e para a relação com os profissionais que atuam nas variadas frentes de combate ao crime no estado.
(Colaborou Nicolas Iory).