No cenário educacional do Reino Unido, uma nova onda de trapaça acadêmica surgiu, impulsionada pelo uso de ferramentas de inteligência artificial (IA), como o ChatGPT. Um levantamento realizado pelo jornal The Guardian mostra que, em apenas um ano, os casos de trapaça relacionados à IA cresceram de 1,6 para 5,1 casos a cada mil estudantes, evidenciando um desafio crescente para as instituições de ensino.
A evolução das trapaças acadêmicas
De acordo com a pesquisa, a quantidade de casos comprovados de trapaça usando ferramentas de IA atingiu quase 7.000 no ano letivo de 2023-24. As previsões indicam que esse número poderá chegar a 7,5 casos para cada mil estudantes neste ano. Esse aumento destaca a necessidade urgente de que as universidades reajam às novas tecnologias que estão mudando a dinâmica das avaliações e da integridade acadêmica.
Historicamente, a maioria das infrações acadêmicas era relacionada ao plágio, que, em 2019-20, representava quase dois terços de todas as desonestidades acadêmicas. Porém, com o advento da IA generativa, o quadro mudou. A pesquisa revela que os casos de plágio tradicional caíram de 19 para 15,2 a cada mil estudantes desde então, e novas tecnologias de verificação de plágio ainda não são eficazes para detectar o uso de IA.
Desafios para as universidades
O levantamento também apontou que mais de 27% das universidades que responderam à solicitação de informações ainda não categorizam o uso indevido de IA como uma forma separada de desonestidade acadêmica. Isso sugere que as instituições estão apenas começando a lidar com o problema, enquanto muitos casos podem passar despercebidos. Um estudo da Higher Education Policy Institute revelou que 88% dos alunos afirmaram usar IA para suas avaliações.
Especialistas como Dr. Peter Scarfe, professor associado de psicologia na Universidade de Reading, comentam que, embora sempre tenha havido formas de trapacear, o setor educacional precisará se adaptar à realidade da IA. “É inviável simplesmente mudar todos os exames para serem presenciais. Ao mesmo tempo, é necessário reconhecer que os alunos usarão IA, mesmo quando for solicitado que não o façam”, afirma Scarfe.
Tendências entre os estudantes
Estudantes como Harvey e Amelia, que concluíram o ensino superior, afirmam que utilizaram IA principalmente para gerar ideias e estruturar trabalhos. Harvey contou que sempre viu o uso da IA como uma forma de auxiliar no processo criativo: “ChatGPT sempre esteve presente para mim durante a faculdade. O que eu pegaria dele, eu reestruturaria completamente.” Já Amelia notou que as ferramentas de IA foram particularmente benéficas para colegas com dificuldades de aprendizagem, como a dislexia.
Em uma perspectiva mais ampla, a adoção de IA por estudantes se conecta a iniciativas de empresas de tecnologia que visam captar esse público. Google, por exemplo, oferece upgrades gratuitos de suas ferramentas para universitários. Essa estratégia pode resultar em uma maior resistência dos alunos a técnicas de ensino tradicionais, consideradas cada vez mais desatualizadas.
O futuro da avaliação acadêmica
Dr. Thomas Lancaster, especialista em integridade acadêmica, sugere que o foco deve ser em habilidades que não podem ser facilmente substituídas pela IA, como a comunicação e as habilidades interpessoais. “É fundamental que os alunos entendam por que determinadas tarefas são exigidas e se envolvam mais ativamente no processo de design das avaliações”, diz. Isso pode ser a chave para que a educação superior se adapte e evolua diante da nova realidade tecnológica.
A resposta do governo britânico destaca o investimento em programas de habilidades e a necessidade de integrar a IA ao ensino e aprendizagem com cuidado. Um porta-voz afirmou que a IA tem um grande potencial para transformar a educação, mas requer consideração cuidadosa para preparar os alunos para o futuro laboral.
*Nomes foram trocados.