A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã de ontem, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro do Turismo Gilson Machado. Ele é suspeito de ter obstruído o trabalho de investigadores ao tentar obter um passaporte português para o tenente-coronel Mauro Cid, delator em um processo relacionado à trama golpista. Durante a mesma operação, Cid teve um celular apreendido em sua residência e foi levado para depor na sede da PF em Brasília, onde negou ter a intenção de deixar o país. À noite, Moraes revogou a prisão de Machado, afirmando que as medidas já tinham produzido os efeitos esperados e poderiam ser substituídas por medidas cautelares.
A operação e suas consequências
A movimentação do dia foi precedida por uma significativa reviravolta na ordem de Moraes. Por volta da 1h da manhã, o ministro havia determinado a prisão de Cid e de Machado, acolhendo um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Na manhã de ontem, a PF estava prestes a prender Cid, mas Moraes avisou que a operação seria apenas para a busca e apreensão de seu celular, alterando assim a estratégia da polícia.
De acordo com documentos obtidos pelo GLOBO, Paulo Gonet, procurador-geral da República, justificou o pedido de prisão preventiva de Cid. Ele citou que familiares do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro deixaram o Brasil em direção aos Estados Unidos, o que reforçava a suspeita de que Cid e Machado estavam tentando facilitar a fuga de Cid do país.
Acusações e defesas
Conforme a PGR, as alegações indicam que Machado buscou auxiliar Cid a escapar da aplicação da lei e que essa conduta poderia ser interpretada como obstrução de Justiça. Machado, por sua vez, negou as acusações, afirmando que apenas solicitou um passaporte para seu pai, de 85 anos, ao consulado português em Recife. Ele se defendeu dizendo: “Não matei, não trafiquei drogas, não tive contato com traficantes. Apenas pedi um passaporte para meu pai, por telefone, ao Consulado Português do Recife.”
Cid também negou ter a intenção de sair do país e alegou desconhecimento sobre o pedido de passaporte em seu nome. Em interrogatório, ele foi questionado sobre mensagens veiculadas pela revista Veja, onde teriam surgido indícios de que ele teria utilizado um perfil no Instagram para se comunicar sobre sua delação, algo proibido.
Decisões de Moraes
Após revogar a prisão de Machado, Moraes estabeleceu medidas cautelares, incluindo a proibição de viajar para fora do Brasil, além do cancelamento do passaporte. O STF identificou indícios de que Machado ajudou Cid a tentar evitar a responsabilização legal. Estas decisões marcam mais um capítulo nas investigações relacionadas ao governo Bolsonaro e às suas consequências legais.
Reações políticas
Politicos se manifestaram sobre a prisão de Machado, incluindo a ministra Gleisi Hoffmann, que destacou que “a prisão do ex-ministro Gilson Machado confirma que fraudar a Justiça é um método entre os bolsonaristas”. Por outro lado, o deputado Eduardo Bolsonaro ironizou a situação, expressando surpresa com a acusação de que seu colega teria questionado um agente consular sobre passaporte.
Os desdobramentos desta operação continuam a gerar discussões e a provocar reações intensas no meio político, mostrando a profunda crise de confiança nas instituições e a sensação de impunidade que permeia este contexto.
As próximas semanas podem trazer mais repercussões à medida que as investigações progridem e novos fatos possam surgir, aprofundando ainda mais os desafios legais e políticos enfrentados pelos envolvidos.