Na última quinta-feira, 12 de junho, a Casina Pio IV, sede da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, foi palco do terceiro Encontro de Ética Empresarial, intitulado “Brincar com fogo: explorar a inovação sem queimar o futuro”. O evento contou com a participação de cerca de cinquenta expoentes do mundo empresarial, investidores de capitais de risco, representantes de instituições acadêmicas e artistas, todos reunidos para discutir a ética no desenvolvimento econômico e a responsabilidade que vem com a inovação tecnológica.
A importância de investir com ética
Durante o encontro, a discussão central girou em torno de como é possível investir em tecnologias avançadas e desenvolver sistemas de inteligência artificial de forma ética, respeitando a dignidade humana. A principal preocupação entre os participantes era a possibilidade de que uma inovação desconectada dos valores humanos pudesse “queimar o futuro” da humanidade. Os especialistas ressaltaram que, embora a inovação tenha o potencial de melhorar a qualidade de vida, ela também pode gerar desigualdades e prejudicar o meio ambiente.
Equidade, responsabilidade e sustentabilidade
A palestrante Eva Spina, chefe do Departamento Digital, Conectividade e Novas Tecnologias do Ministério das Empresas e do Made in Italy, enfatizou a necessidade de focar em equidade, responsabilidade e sustentabilidade. Ela compartilhou iniciativas que foram aprovadas, principalmente voltadas para os países africanos durante o G7 realizado no ano anterior na Puglia. Eva destacou que, sem esses princípios, é difícil equilibrar as oportunidades de crescimento e os riscos que a inovação pode gerar.
Ética e princípios universais
Brian Smith, decano associado para a pesquisa na Escola Lynch de Educação e Desenvolvimento Humano de Boston, levantou a questão provocativa sobre a possibilidade de um desenvolvimento sem justiça. Ele argumentou que é essencial criar um sistema de regras e princípios universais para guiar as inovações tecnológicas, colocando a dignidade humana acima de interesses financeiros e de desenvolvimento tecnológico. Para ele, um quadro ético-moral é fundamental para entender como criar tecnologias que não comprometam a prosperidade humana.
Valor do conhecimento e formação
Os participantes também destacaram a importância do conhecimento no processo de gestão da inteligência artificial. Cristina Nardelli, do Unicri, defendeu que a formação é a única maneira de preparar as gerações futuras para lidar com as realidades da nova revolução industrial, que envolve tanto redes físicas quanto digitais. Giuseppe Rao, gerente geral da Presidência Italiana do Conselho de Ministros, citou Francis Bacon ao afirmar que “conhecimento é poder”, sublinhando a necessidade de uma educação que prepare líderes éticos.
Inteligência artificial a serviço das comunidades
Federica Zanella, membro do Conselho da Trenitalia, ressaltou que confiança e transparência são fundamentais nesta revolução tecnológica. Giovanni Caccamo, artista e cantor, concordou, afirmando que a inteligência artificial deve ser colocada a serviço das comunidades. Ele defendeu que a tecnologia não deve enriquecer um pequeno grupo, mas sim promover uma sociedade mais justa e equitativa.
Reflexões do Papa sobre dignidade e trabalho
A questão da dignidade humana, do trabalho e da justiça é também um tema central para o Papa Leão XIII e o Papa Francisco. Leão XIII abordou a questão social em sua encíclica Rerum novarum durante a primeira revolução industrial, e hoje, com a nova revolução industrial e os desafios da inteligência artificial, a Igreja busca oferecer soluções baseadas na Doutrina Social. O Papa Francisco, em diversas ocasiões, mencionou a necessidade de um desenvolvimento ético dos algoritmos, enfatizando que a inteligência artificial deve sempre servir ao bem-estar humano.
Com um cenário global em constante mudança, o Encontro de Ética Empresarial no Vaticano destacou a urgência de uma discussão ética profunda sobre como a tecnologia deve ser usada, reafirmando que o respeito pela dignidade humana deve estar no centro de todas as inovações.