Em entrevista ao GLOBO no seu escritório na Universidade de Pequim, o economista Lin Zhengyi, que desertou de Taiwan em 1979, afirmou estar otimista quanto à recuperação e ao potencial de crescimento da China, mesmo diante das tensões comerciais com os Estados Unidos. Lin, que atualmente é reitor do Instituto de Nova Economia Estruturalista, acredita na resiliência econômica do país.
China mantém o foco na inovação e no desenvolvimento tecnológico
Segundo Lin, o país está mais forte para lidar com a guerra tarifária iniciada pelos EUA e destaca o avanço na quarta revolução industrial, que inclui inteligência artificial, big data e inovação tecnológica. Ele explica que a China possui uma grande vantagem competitiva por ter uma população altamente qualificada, formando cerca de 7 milhões de estudantes por ano, metade deles em áreas de ciência, matemática e engenharia. Esses números superam os de todos os países desenvolvidos somados, o que dá ao país uma vantagem em processos de inovação.
Resiliência econômica e metas de crescimento
O especialista ressalta que a meta oficial de crescimento do PIB de 5% para este ano é totalmente viável, mesmo com as tensões comerciais atuais. “Desde 2008, a China contribui continuamente com cerca de 30% do crescimento econômico global. Apesar dos obstáculos, a resiliência se mantém forte”, afirma Lin.
Ele também destaca o papel das cadeias de suprimentos completas e do mercado interno robusto, que podem absorver inovações e transformar setores tradicionais em fontes de valor agregado. Além disso, o país busca expandir suas operações nas terras-raras, minerais essenciais para a indústria bélica e tecnológica mundial, que são quase exclusivas da China.
Desafios e perspectivas de longo prazo
Apesar do otimismo, Lin reconhece que há dificuldades, como a desaceleração do comércio global e a desconfiança no setor privado, que sofreu com projeções de crescimento que não se concretizaram. No entanto, ele acredita que esses obstáculos são passageiros. “Nossa economia é movida por investimentos em inovação, o que pode garantir crescimento de até 8% do PIB per capita nas próximas décadas.”
Por outro lado, Lin alerta que uma possível tentativa americana de desacoplamento econômico, para alguns, parecerá uma estratégia difícil, pois implicaria na reconstrução de setores que os EUA desejam substituir por produções internas, o que elevaria custos e baixaria produtividade global. “Se os EUA decidirem pelo desacoplamento, a China sairá vitoriosa”, afirma.
Enfrentando o envelhecimento e promovendo o desenvolvimento sustentável
Olhar para o envelhecimento populacional como um obstáculo de longo prazo não preocupa tanto Lin. Ele cita exemplos do passado, como a Suécia, que mesmo com uma significativa parcela de idosos, conseguiu manter seu crescimento estável ao investir em inovação tecnológica e manter uma política industrial ativa. “A China também continuará investindo em setores estratégicos, como veículos elétricos e baterias, apoiada por sua política industrial.”
Reconhecendo o papel do governo e a importância do apoio à indústria
Lin reforça a visão de que o apoio estatal é fundamental para o desenvolvimento de setores considerados vantajosos, contrariando a ideia de que o governo deve evitar intervenções. A China, assim como outros países, utiliza política industrial para impulsionar setores emergentes, garantindo vantagem competitiva no cenário mundial.
Ele explica que a experiência do Japão na década de 1980, que perdeu sua liderança tecnológica devido à desindustrialização, serve de alerta. “A China está em outro estágio de desenvolvimento e continuará usando a política industrial para expandir setores como os de veículos elétricos e energias renováveis”, reforça.
Perspectivas para o futuro
Para Lin, o crescimento chinês de cerca de 8% ao ano no PIB per capita é possível e sustentado por uma estratégia de longo prazo baseada na inovação e na transformação estrutural. Apesar das tensões com os EUA, ele acredita que o país continuará sendo uma potência global em desenvolvimento, com uma economia forte, capaz de enfrentará desafios internacionais combinando paciência, sabedoria milenar e inovação.
Mais detalhes sobre a visão de Lin Zhengyi e sua análise do cenário econômico chinês podem ser acessados em esta matéria do GLOBO.