Ao tentarem contrastar a realidade de Los Angeles com uma “cidade pequena” ideal, conservadores acabam destacando o perfil mais branco e progressista de Rockford, Michigan, uma área que votou majoritariamente em candidatos democratas.
Vídeo de uma zona “ideial” vira alvo de críticas por desconhecer contexto político
Recentemente, um vídeo de uma cidade americana retratada como um lugar “tranquilo, patriótico e bonito” viralizou nas redes sociais. O conteúdo mostra uma típica vila americana com uma praça, bandeiras, carros antigos e feiras rurais, tudo emblemático de um ideal de “Small Town USA”.
Porém, ao se aprofundar, muitos internautas descobriram que a cidade retratada é Rockford, Michigan, uma área de alta renda próxima a Grand Rapids, que nas últimas eleições votou majoritariamente pelo candidato democrata, Joe Biden, e pela vice-presidente Kamala Harris. Isso desmente a narrativa de uma comunidade conservadora e tradicional, frequentemente idealizada por alguns porta-vozes da direita.
A ilusão de pequenas cidades como símbolos do “sonho americano”
O conteúdo foi amplamente criticado por quem vive na região, destacando que o que é apresentado como o “modo de vida americano” e “ural de conservadores” na verdade representa um perfil de área progressista, branca e com forte influência da classe alta. Muitos comentários apontaram que coisas como a política e o perfil demográfico dessas cidades são ignorados na narrativa criada por conservadores.
Diversas análises indicam que a preferência por esse tipo de conteúdo não é por acaso: trata-se de uma tentativa de reforçar uma narrativa de que as áreas rurais ou suburbanas são “mais americanas”, quando na verdade, muitas dessas regiões apoiam candidatos democratas e possuem um perfil bastante diferente do discurso feito por alguns líderes da direita.
Contradição entre imagem e realidade nos discursos conservadores
O exemplo de Rockford mostra-se emblemático. Apesar de ser considerada uma “pequena cidade” ideal na mídia conservadora, ela é uma comunidade urbanizada, com múltiplas escolas e com uma maioria de votantes democratas. Ainda assim, o vídeo de uma parte da cidade reforça uma imagem de simplicidade e patriotismo, que muitos apontam ser uma visão limitada e até elitista da realidade americana.
Para especialistas, essa estratégia tem por objetivo criar um contraste artificial entre o que eles chamam de “burguesia progressista” e as verdadeiras comunidades da América profunda. Porém, essa distinção muitas vezes oculta as vozes e realidades de quem vive nessas áreas, aumentando o fosso ideológico.
Discussões sobre raça, classe e política
Outro ponto importante levantado por críticos é a ausência de diversidade no vídeo e na narrativa que o acompanha. Como apontam diferentes comentários, as “pequenas cidades ideais” apresentadas frequentemente são muito brancas, com pouco ou nenhum reconhecimento da presença de comunidades negras, latinas ou outras minorias — elementos essenciais para compreender o verdadeiro perfil do interior do país.
Assim, o fenômeno revela também como a narrativa de uma “América pura e tradicional” serve mais a interesses políticos do que a descrição da realidade, reforçando estereótipos nocivos e simplificando conflitos complexos.
Conexões com o cenário político atual e polarização
A popularidade desse tipo de conteúdo entre políticos e influenciadores conservadores reforça a polarização do debate político nos EUA. Ao promover uma visão idealizada de áreas supostamente tradicionais, eles tentam fortalecer uma identidade nacional baseada em valores específicos, ignorando, muitas vezes, a diversidade real das comunidades americanas.
Ao mesmo tempo, essa estratégia contribui para o aumento das tensões entre áreas urbanas e rurais, dificultando o diálogo e a compreensão mútua na política e na sociedade.
Enquanto isso, as cidades grandes, como Los Angeles, sofrem com uma narrativa distorcida que busca criar medo e desconfiança, mesmo que os dados mostrem que a maior parte dos moradores busca uma vida pacífica e segura, apesar da crise política e social.
As próximas eleições, portanto, continuarão a ser influenciadas por essas narrativas, que muitas vezes escondem a complexidade das comunidades e sua verdadeira composição demográfica e política.
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