Entre os dias 04 e 09 de junho de 2025, membros do Conselho Geral da Sociedade do Apostolado Católico (SAC) realizaram uma visita canônica aos palotinos presentes na Ucrânia, um país que segue em conflito desde 2022. A delegação incluiu o Padre Zenon Hanas, Reitor Geral; o Padre Jeremiah Murphy, Vigário Geral; e o Padre Vanderlei Luiz Cargnin, Ecônomo Geral, todos vindos de Roma.
A ação dos palotinos na Ucrânia
A presença dos palotinos na Ucrânia, conforme enfatizado pelo Conselho, é resultado da ação missionária da Província Cristo Rei de Varsóvia, na Polônia, que atualmente é a maior em número de membros da SAC. No país, há 17 padres palotinos em atividade, sendo 11 ucranianos e 6 poloneses, distribuídos em oito casas religiosas.
Segundo o Padre Vanderlei Cargnin, integrante da Província de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, a situação da Igreja Católica na Ucrânia é desafiadora. “A maior igreja é a ortodoxa. Cerca de 10% da população é católica, na sua maioria pertencente à Igreja Greco-Católica Ucraniana. Existem também fiéis do Rito Latino, da Igreja Católica Bizantina Rutena e da Igreja Católica Armênia. Com a guerra, muitos católicos deixaram o país,” explicou.
Impactos diretos da guerra nas comunidades
Durante a visita, o grupo de padres pode observar de perto os efeitos da guerra na vida das comunidades. O Padre Vanderlei relatou que, apesar de já ter visitado regiões em conflito, como o norte de Moçambique e a República Democrática do Congo, nunca havia experienciado algo tão intenso quanto na Ucrânia.

Um dos momentos mais comoventes da visita foi a participação no funeral de um jovem de 19 anos, que estava ligado aos palotinos e desejava ingressar no seminário. Ele atuava como voluntário instrutor de drones e foi morto ao retornar de uma missão. “O enterro durou quatro horas. Enquanto passava o caixão, as pessoas se ajoelhavam, choravam. Uma dor imensa tomava conta do ambiente,” contou o padre emocionado.
Desafios enfrentados pela população
A população ucraniana está exausta física e emocionalmente devido à prolongação do conflito. “As pessoas estão cansadas. Muitas sofrem com depressão, insônia e medo constante dos bombardeios noturnos. Em todas as cidades, cemitérios crescem com as vítimas da guerra,” lamentou o padre Cargnin.

A situação dos sacerdotes palotinos se tornou mais delicada após a revogação de um decreto que os isentava da convocação militar. “Antes, um general havia garantido que os padres não iriam para o front. Mas agora, sem esse decreto, muitos vivem com medo de serem presos e enviados ao combate,” afirmou o Padre Vanderlei. Apesar disso, alguns palotinos continuam ativos junto aos feridos, oferecendo apoio espiritual, até mesmo na linha de frente.
Recentemente, dois sacerdotes foram detidos, mas conseguiram ser liberados posteriormente. Segundo a lei militar vigente, estão isentos do alistamento os homens com três filhos, estudantes, idosos acima de 70 anos, mulheres e pessoas com problemas graves de saúde.

Ao final da visita, o Padre Vanderlei expressou sua profunda comoção: “Vivenciei a dor das mães que perderam os filhos, a destruição, o sofrimento silencioso de um povo resiliente. A guerra é um desastre humano e espiritual. Agradecemos a Deus por, mesmo com nossas dificuldades no Brasil, não vivermos essa realidade.”
Ele recordou ainda as palavras do Papa Francisco, que constantemente condena a guerra como “loucura”, “horror” e “derrota da humanidade”. O pontífice tem feito apelos contínuos por paz, cessar-fogo e soluções pacíficas, alertando o mundo a não se acostumar com os horrores da guerra.

Essa visita não apenas iluminou a realidade enfrentada pelos ucranianos, mas também reforçou o compromisso da Igreja e da comunidade palotina com a solidariedade e a assistência aos mais necessitados em tempos de crise.