As vendas de produtos duty-free em Hainan, a principal província turística da China, reduziram-se 10,8% nos quatro primeiros meses de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da agência aduaneira local. Essa diminuição marca o quarto trimestre consecutivo de queda no setor, impulsionada pela desaceleração econômica e pelo retorno dos consumidores chineses às compras no exterior.
Impacto da retração na indústria de cosméticos e luxo
Empresas globais de beleza, como Estée Lauder, Shiseido e L’Oréal, sentiram a redução nas vendas de produtos de alta gama durante o período. Jacques Roizen, diretor-geral de consultoria para a China no Digital Luxury Group, afirmou que “o setor de cosméticos viu a vantagem de preço do varejo de viagem ser corroída”, devido à diminuição dos descontos oferecidos por marcas que vendem online e em lojas físicas.
Produtos de luxo, que antes se beneficiavam do boom de compras de viajantes chineses, enfrentam dificuldades. Até recentemente, outlets de Hainan ofereciam preços até 20% inferiores aos praticados em outlets duty-free na China continental, como o caso do creme facial Crème de la Mer, vendido pelo Sam’s Club por valores menores em determinados momentos.
Reestilização do comportamento de consumo na China
O esvaziamento do boom de compras duty-free também está relacionado ao aumento da recuperação do turismo internacional, especialmente após o fim das restrições de viagem pós-Covid. Destinos como Japão e Sudeste Asiático voltaram a atrair turistas chineses que, anteriormente, impulsionavam as vendas de Hainan. Como consequência, tanto o número de compradores quanto o volume de produtos adquiridos tiveram uma queda de mais de 25% neste ano.
Além disso, o crescimento da popularidade de marcas nacionais de cosméticos de alta qualidade com preços competitivos contribui para essa mudança de paradigma. Pequim intensificou a repressão a revendedores que utilizavam cotas de compras duty-free de terceiros — conhecidos como “daigou” — para revender produtos com lucro, o que ajudou a esfriar o mercado em Hainan.
Segundo uma campanha alfandegária realizada em 2023, mais de US$ 83 milhões em mercadorias foram apreendidos por práticas ilegais relacionadas às compras duty-free na ilha. Paralelamente, a economia de Hainan, que cresceu 11,2% em 2021 devido ao boom de compras, desacelerou significativamente para 3,7% em 2024, refletindo o impacto da retração.
Perspectivas e desafios futuros
Apesar das expectativas de que a ilha se tornaria um mercado-chave de crescimento para o setor de cosméticos, o relatório mais recente de 2025 diminuiu a meta de vendas duty-free de 100 bilhões para apenas 52 bilhões de yuans. A introdução de uma cota anual de compras de até 100.000 yuans em 2020 elevou as esperanças de um crescimento duradouro, mas a atual recessão mostra dificuldades na concretização dessas expectativas.
Além disso, a retomada das viagens internacionais em destinos como Japão e Sudeste Asiático, junto ao crescimento de marcas nacionais, vem reduzindo a dependência do mercado de Hainan. Empresários do setor de luxo, como Swire Properties e LVMH, continuam investindo na região, buscando estratégias sustentáveis diante do cenário desafiador, enquanto o governo local mantém otimismo na potencial recuperação do Porto de Livre Comércio de Hainan.
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