À medida que o ex-presidente Donald Trump intensifica sua aproximação do aparato militar para conter protestos e dissidentes, surgem indicações de que alguns líderes do Pentágono estão dispostos a cumprir ordens que podem incluir ações ilegais, como disparos contra cidadãos dos EUA. Essa postura alarmante coloca em xeque os limites do poder presidencial e o estado de direito no país.
Militares dispostos a agir com força contra civis americanos
Segundo relatos, Trump teria solicitado que tropas do Exército dissessem para abrir fogo nos protestadores, incluindo tiros nas pernas, uma ordem que gerou preocupação entre especialistas jurídicos e militares. Em 2022, o ex-secretário de Defesa Mark Esper revelou que o então presidente chegou a sugerir que os fuzilassem, mesmo em protestos considerados legítimos. Esper afirmou que Trump chegou a perguntar: “Não podem apenas atirar neles? Noas pernas, algo assim”.
Durante uma audiência de confirmação em janeiro, o atual secretário da Defesa, Pete Hegseth, que também integrou a Guarda Nacional de Washington naquelas manifestações, evitou responder se obedeceria a uma eventual ordem de disparar contra civis. “Nunca na minha vida entreguei uma resposta definitiva sobre ordens específicas do presidente”, afirmou Hegseth, sem negar ou confirmar suas inclinações.
Mobilizações militares e ameaças de escalada
No último fim de semana, Trump ordenou o envio de 2.000 soldados da Guarda Nacional da Califórnia a Los Angeles para dispersar protestos contra as ações de imigração, comandos que depois foram ampliados por ele mesmo, incluindo mais 700 militares da 1ª Batalhão de Marines. Trump afirmou publicamente que “teremos tropas em toda parte”, sinalizando uma possível escalada da força militar contra civis.
Apesar das leis federais proibirem prisões sem autorização específica — e sem uma declaração de estado de insurreição pelo Congresso —, Trump continua a ameaçar recorrer ao Insurrection Act de 1807 para justificar ações mais duras. A presidente do Senado, Mazie Hirono, criticou duramente a escalada, alertando para o risco de Trump agir como se estivesse acima da lei, o que representa um “precedente perigoso”.
Reações e versões oficiais
O porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, responsabilizou o governador da Califórnia, Gavin Newsom, por supostas facilidades às ações ilegais, e afirmou que o governo federal tem a obrigação de proteger seus agentes. “Governo de Newsom não protege a lei, e por isso estamos aqui para garantir a ordem”, declarou Parnell.
Por outro lado, especialistas observam que a utilização de forças militares contra protestos civis nos EUA viola códigos de conduta e direitos constitucionais. A maior dúvida é até que ponto Trump e seus aliados estão dispostos a seguir com uma atuação que pode deslegitimar ainda mais o sistema democrático americano.
Histórico de tensões e declarações controversas
Esse clima de crescente tensão remonta às manifestações de 2020, após a morte de George Floyd, quando Trump ordenou a retirada dos manifestantes de Lafayette Square sob o pretexto de uma operação militar, enquanto Esper e Milley, então comandantes militares, posteriormente se manifestaram contrários ao uso da força excessiva — o que lhes custou seus cargos.
Hoje, com Hegseth assumindo um papel de apoio explícito à agenda de Trump, há preocupações de que a linha entre o discurso político e a ação militar possa estar sendo obscurecida, criando um cenário potencialmente instável para a democracia americana.
Perspectivas futuras e riscos de uma crise
Especialistas alertam que a escalada de Trump em relação ao uso das forças armadas, sem respaldo legal claro, aumenta o risco de confrontos violentos e violações de direitos civis. A comunidade internacional observa atenta esses desenvolvimentos, enquanto figuras políticas internas discutem os limites do poder presidencial sob uma conjuntura cada vez mais polarizada.