À medida que o julgamento de Sean “Diddy” Combs avança, discussões nas redes sociais revelam entendimentos errados sobre consentimento, vulnerabilidade de vítimas e preconceitos relacionados ao gênero. A advogada e professora Shanita Brown alerta para mitos que dificultam a compreensão e o apoio às vítimas de abuso sexual e violência doméstica.
Desmistificando o conceito de consentimento
Um dos equívocos recorrentes na conversa pública é a ideia de que “o consentimento anterior vale como consentimento contínuo”. Segundo Shanita Brown, isso não é verdadeiro. “Consentimento deve ser dado a cada interação, esclarce que é necessário perguntar e confirmar o desejo da pessoa, como: ‘Posso continuar? Você está confortável? Quer parar?'”, afirma. Essa compreensão é fundamental para evitar abusos e proteger os direitos das vítimas.
Por que muitas vítimas não deixam relacionamentos abusivos
Outro ponto importante é a crença de que, se o relacionamento fosse realmente abusivo, a vítima teria saído imediatamente. Shanita explica que a saída pode levar vários anos, devido ao trauma, vínculo emocional e medo. “Normalmente, leva-se até sete tentativas para uma pessoa conseguir sair de uma relação tóxica, muitas vezes por causa de uma ligação que o cérebro confunde com amor, como o amor-bomba, que gera conflitos internos”, detalha.
Ela acrescenta que comentários simplistas, como “ela poderia ter saído”, desconsideram a complexidade emocional e psíquica das vítimas, como exemplificado por histórias de sobreviventes como Cassie, que relata ter sido coagida e amedrontada.
Impacto das piadas e comentários insensíveis
Brown destaca ainda o impacto negativo que comentários depreciativos e piadas de mau gosto têm sobre sobreviventes, especialmente durante o julgamento. “Fazer brincadeiras com lubrificantes ou comentários sobre os envolvidos só reforçam a desumanização e dificultam o processo de cura”, observa. Ela recomenda que sobreviventes evitem consumir conteúdo sensacionalista e procurem apoio emocional, reforçando a importância do autocuidado.
Repercussão do julgamento na saúde mental das vítimas
Segundo Shanita, o julgamento reabre feridas para muitas sobreviventes, especialmente mulheres negras. “Essa cobertura traz à tona o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), com flashbacks e ansiedade, além de reforçar a sensação de não serem acreditadas ou de que seus relatos serão ignorados pelo sistema”, comenta. É preciso fortalecer o apoio jurídico e emocional às vítimas que desejam falar, sem julgamento ou dúvida.
Por que o tempo de relato não define a credibilidade
Ela também reforça que o atraso na denúncia, muitas vezes motivado por medo ou vergonha, não prejudica a veracidade dos relatos. “Diante do medo, do trauma e do silenciamento imposto pelo agressor, muitos sobreviventes demoram anos para conseguir falar. Isso não diminui sua história ou sua dor”, afirma, citando exemplos como Mia, antiga assistente de Diddy, que revelou ter esperado tempo para se sentir segura para denunciar.
A valorização de todas as vítimas, independente do gênero
Por fim, Shanita lembrou que o foco também deve estar na validação de vítimas masculinas de abuso sexual, frequentemente invisibilizadas por mitos de credibilidade. “Homens também podem ser vítimas de abuso. É importante que a sociedade reconheça e respeite seus relatos, sem julgamentos ou preconceitos”, conclui.
Se você ou alguém que conhece está em perigo imediato devido à violência doméstica, ligue para o 911. Para ajuda confidencial, acesse a Hotline Nacional contra Violência Doméstica pelo telefone 1-800-799-7233 (SAFE), ou envie uma mensagem pelo site. Para casos de abuso sexual, o Disque 180 oferece suporte especializado.