Ao longo de seis anos de relacionamento, as professoras Stephane Albuquerque e Keli Rodrigues perceberam que falar de dinheiro tornou-se essencial, especialmente após uma crise financeira em 2021, durante a pandemia, que afetou suas finanças. A experiência reforça a necessidade de conversas abertas e estratégias de planejamento financeiro para casais, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO.
A importância do diálogo financeiro antes do casamento
De acordo com a pesquisa da Serasa, problemas financeiros são o segundo motivo de separação no Brasil, ficando atrás apenas da dificuldade de comunicação. Por isso, especialistas recomendam que o tema seja abordado desde o planejamento do casamento, incluindo a escolha do regime de bens, como a comunhão parcial, que o casal de Stephane e Keli adotou há um ano e meio. Essa decisão foi motivada pelo desejo de garantir direitos em caso de separação e proteger bens adquiridos posteriormente à união.
Regimes de união e a proteção patrimonial
Nesse contexto, Camila Cruz, especialista em educação financeira, destaca que a conversa deve começar antes do casamento, analisando o patrimônio de cada um e as possibilidades futuras. O entendimento das diferenças de histórias financeiras é fundamental, principalmente quando há negócios ou bens anteriores, como heranças ou empresas. O regime de separação total de bens, por exemplo, oferece maior autonomia patrimonial, enquanto a comunhão parcial envolve dividir tudo após a união.
Organização das contas e divisão de despesas
A organização financeira de um casal também envolve a escolha do tipo de contas bancárias, que pode variar conforme a dinâmica do relacionamento. Segundo a Serasa, em 2023, 85% dos casais não tinham contas conjuntas, embora essa modalidade seja vista como vantajosa pelo planejamento. Camila Cruz recomenda que a finalidade seja clara, podendo ser uma conta para despesas comuns ou uma reserva de emergência, além de manter contas individuais para autonomia.
Anne Caroline e Samya Baker, por exemplo, decidiram juntar tudo em uma única conta digital, gerida por ambas, o que facilita o controle e reforça a parceria. Já Stephane e Keli mantêm contas separadas e uma conta conjunta para guardar dinheiro que sobra, reforçando a confiança e a transparência na relação.
Autoconhecimento financeiro e divisão proporcional de gastos
Especialistas enfatizam que o autoconhecimento é um passo essencial para evitar conflitos. Mila Gaudencio, consultora do Will Bank, destaca que entender a própria história com dinheiro ajuda o casal a definir regras justas, como a divisão de despesas proporcional à renda de cada um. A comunicação franca é a base para evitar ressentimentos e garantir uma relação saudável.
Ferramentas que auxiliam na organização financeira
Planilhas, aplicativos e até contas digitais específicas ajudam na gestão da vida a dois. Anna Zucato, fundadora do Noh, criou uma fintech voltada para casais, possibilitando criar “caixinhas” para objetivos comuns, como reformas ou viagens. Essa estratégia, aliada à transparência, promove maior segurança e fortalece o relacionamento.
Atenção às dívidas e aspectos jurídicos do casamento
Mesmo sem o casamento formal, a união estável pode gerar cobranças de dívida do parceiro, caso haja comprometimento financeiro conjunto. Para quem possui bens ou negócios, a recomendação é optar pela separação total de bens, estratégia adotada pelo casal de Kelly Beltrão e Raphael Castro, que busca preservar sua independência patrimonial.
De acordo com o advogado Leonardo Morau, a separação de bens oferece maior segurança jurídica, especialmente para empresários ou profissionais de risco. Além disso, casais que vivem juntos sem formalizar o relacionamento devem estar atentos à possibilidade da Justiça considerá-los em união estável, o que pode envolver obrigações financeiras não planejadas.
Construindo uma relação de confiança financeira
Por fim, a união financeira exige diálogo contínuo e ajustamentos de acordo com as circunstâncias. Como relata Anne Caroline, a confiança é o pilar para dividir despesas e lidar com imprevistos, como gastos médicos ou emergências. A presença de transparência e o uso de ferramentas tecnológicas, como contas conjuntas ou aplicativos, podem facilitar essa convivência financeira, fortalecendo o vínculo do casal.