O presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou um evento em Mariana, Minas Gerais, para abordar a situação política tensa que vive o país. Durante a cerimônia, que teve como objetivo anunciar investimentos relacionados a um acordo de reparação pela tragédia ambiental ocorrida em 2015, Lula falou sobre o clima difícil na Câmara dos Deputados e defendeu o prefeito local, Juliano Duarte, que enfrentou protestos e vaias durante seu discurso.
Protestos e defesas em Mariana
No início do evento, o prefeito Juliano Duarte (PSB) foi interrompido por manifestações do público, que se mostraram insatisfeitos com a sua presença. O prefeito tentava relatar as dores e dificuldades enfrentadas pela população local após o rompimento da barragem da Samarco, que resultou na morte de 19 pessoas e contaminou o Rio Doce. As vaias começaram quando Duarte recordou o impacto devastador da tragédia em 2015.
Foi neste momento que Lula se manifestou em defesa de Duarte, afirmando que a recepção negativa ao prefeito não fazia justiça ao trabalho dele e ao esforço contínuo para recuperar a cidade. “Não faz sentido o presidente da República vir a um lugar e ser mal recebido. Quando alguém é convidado para nossa casa, o mínimo que se espera é respeito”, afirmou o presidente.
Lula critica clima político e fala sobre desinformação
O presidente não se esquivou de mencionar o desconforto atual na política brasileira, dizendo que a Câmara dos Deputados se tornou um lugar propenso a intrigas e ódio. “Estamos vivendo um momento muito desagradável no mundo, há um certo desconforto entre a humanidade, muita intriga e xingamento”, destacou Lula. Ele ainda disse que alguns deputados estão “aprendendo a viver de mentiras”.
A crítica se voltou para os parlamentares do PL, Nikolas Ferreira e Carlos Jordy, que teriam utilizado dados falsos em suas críticas ao governo. Lula também enfatizou a importância de um debate respeitoso, que fugisse das brigas políticas desembestadas que marcam os dias atuais na Câmara.
Reparações e responsabilidade do governo
O evento também serviu para discutir o novo acordo de reparação para Mariana, que, embora não tenha assinado, será beneficiada por um repasse de R$ 139 milhões nos próximos dois anos. Isso é parte do saldo dos acordos firmados pelo governo federal e pelas empresas envolvidas no desastre, como a Vale.
Durante seu discurso, Lula expressou sua preocupação com as reparações pendentes e a necessidade de a Vale assumir a responsabilidade pela tragédia. “A Vale, se fosse uma pessoa, estaria garantida nas profundezas de não sei do que”, disse, estabelecendo uma conexão com o sofrimento da população e o descaso que se sentia em relação à empresa.
Ele deixou claro que, a partir de agora, o governo tem que agir e cumprir com suas obrigações em relação às reparações para os impactados pela tragédia. “Não temos mais desculpa, agora as coisas têm que acontecer. Quando o povo de Mariana quiser xingar, vai falar a Vale é isso, mas também vai falar que o governo é aquilo”, destacou.
Novo hospital e transferências de renda
Um dos anúncios mais aguardados do evento foi a construção de um hospital universitário em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), além de um programa de transferências de renda para aqueles impactados pela tragédia, com investimento de R$ 3,7 bilhões ao longo de quatro anos.
O programa beneficiará aproximadamente 15 mil famílias de agricultores e 22 mil pescadores, que receberão um pagamento mensal ao longo do período, buscando mitigar os efeitos da tragédia que afetou tanto a vida na região.
A situação em Mariana e os desdobramentos no Congresso mostram um retrato preocupante de um país que ainda luta para elaborar os traumas de seu passado, enquanto contende com uma política polarizada e controversa. A expectativa agora é que as promessas feitas e os investimentos anunciados se concretizem em melhorias reais para a população local.