Após cerca de oito meses à frente do braço brasileiro de um dos maiores bancos globais, Marcelo Gaiani afirma que o cenário atual, marcado pela guerra comercial e pela potencial redução dos juros americanos, favorece a mobilidade de recursos atualmente aplicados nos Estados Unidos para outras economias, incluindo o Brasil.
Oportunidades e limites para o Brasil na atual rotação de carteiras
Com a recuperação do saldo de estrangeiros na B3, que chegou a ficar negativo em abril, o Brasil apresenta-se como destino mais atrativo para investidores globais. Até a última quarta-feira, o saldo de estrangeiros em ações no país atingia R$ 21,69 bilhões. No entanto, Gaiani avalia que o potencial do Brasil seria maior se as contas públicas fossem mais disciplinadas, o que traria maior segurança à entrada de capitais estrangeiros.
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Impacto da guerra tarifária e cenário interno
Gaiani afirma que as empresas brasileiras, apesar de afetadas por tarifas, têm sentido mais os efeitos da alta dos juros internos do que a guerra comercial promovida por Donald Trump. Segundo ele, há projetos de abertura de capital de clientes do banco, embora a uma taxa de juro mais baixa seja necessária para estimular os IPOs.
Incertezas globais e suas consequências para o Brasil
A guerra tarifária global trouxe uma análise mais aprofundada do cenário econômico mundial. Enquanto a estratégia de escalada e retaliações aumentam as incertezas, o Brasil, por ter um comércio relativamente mais fechado, sente impacto indireto, especialmente por meio da China, maior parceiro comercial.
“A disrupção nas negociações e a volatilidade dos mercados influenciam a disposição de CEOs e investidores de ampliar investimentos neste momento”, explica Gaiani. No entanto, a expectativa é de que, com maior clareza sobre política fiscal e um cenário de disciplina, o Brasil possa atrair mais investimentos internacionais.
Além do cenário tarifário: o dólar, juros e perspectivas de mercado
Se a política monetária evoluir para uma redução de juros, o comportamento do dólar pode passar por uma depreciação, beneficiando o Brasil ao tornar seus ativos mais atrativos para investidores globais. Nesse contexto, tende a haver uma diversificação pelos investidores, com maior fluxo para mercados como Europa e Ásia, incluindo a China e países latino-americanos.
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Olhando para o futuro: mercado de ações e política fiscal
O banco, um dos principais players na análise do mercado brasileiro, revisou recentemente sua recomendação sobre ações locais. Em 2024, classificou o Brasil como um “dia da marmota” devido à constante atenção à política fiscal, mas, com a mudança de cenário econômico global e a possível queda de juros, há esperança de abrir uma janela para IPOs e investimentos.
Gaiani revela que o time de análise do banco trabalha com clientes na preparação para uma potencial janela de oportunidades no próximo ano, dependendo do avanço da disciplina fiscal e do cenário eleitoral.
Uso de inteligência artificial na performance do J.P. Morgan
O banco já utiliza inteligência artificial há três anos, com modelos de linguagem próprios acessíveis a cerca de 300 mil colaboradores. Segundo Gaiani, a IA tem contribuído para melhorar a produtividade e otimizar o atendimento ao cliente, resultando em uma expectativa de redução de 10% no tempo de trabalho de cada funcionário.
Com as atuais projeções de queda de juros nos EUA e no Brasil, espera-se uma retomada de investimentos, preparando o terreno para futuras oportunidades no mercado de capitais brasileiro.
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