Em Campinas, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) está enfrentando um desafio crescente: trotes telefônicos. Um estudo recente revelou que, em média, o serviço recebe 378 ligações falsas por mês, o que representa cerca de 2,6% do total de 188.211 chamadas atendidas entre maio de 2024 e 2025. Renato Ferrari Letrinta, coordenador do Samu, alertou que essa prática pode não apenas congestioná-las, mas também colocar vidas em risco.
O impacto dos trotes nas emergências
Com uma média diária de 515 chamadas, isso significa que aproximadamente 13 são trotes. A situação é particularmente alarmante durante as férias escolares, quando o número de trotes aumenta significativamente. Em julho, as ligações falsas chegam a representar 3,5% do total, e em dezembro, o número sobe para 3,9%. Esses dados refletem uma preocupação crescente entre os gestores do serviço, pois trotes podem resultar em equipes sendo deslocadas para locais desnecessários.
Letrinta explicou que as crianças são, em sua maioria, as responsáveis por esses trotes. “As crianças têm acesso fácil a celulares, o que facilita esse comportamento. Muitas vezes, o atendente percebe que se trata de um trote logo no início da conversa. No entanto, há casos em que as ligações são bem elaboradas e só conseguimos identificar o trote quando a viatura chega ao local”, lamentou.
Consequências financeiras e sociais
Além de serem um desperdício de recursos, os trotes complicam ainda mais a situação do Samu, que funciona 24 horas, atendendo desde casos simples até emergências graves. “Cada minuto conta na vida de um paciente; os trotes prejudicam nosso atendimento”, reforçou Letrinta. As ligações falsas não apenas congestionam as linhas telefônicas, mas também distraem as equipes que poderiam estar atendendo pessoas em situações reais de emergência.
Pelo serviço público de saúde, cada chamada do Samu demanda uma resposta rápida e efetiva. Quando a linha está ocupada por um trote, uma pessoa com necessidade real de socorro pode não conseguir assistência no tempo necessário. “Esse é um alerta que fazemos constantemente, não é apenas uma questão de brincadeira, mas uma questão de vida ou morte”, enfatizou o coordenador do serviço.
A importância da educação e orientação
Considerando que o Samu pode ser utilizado também por crianças, Letrinta afirmou que a solução não é ignorar as ligações feitas por elas. É essencial orientar as crianças sobre o uso responsável do serviço, pois muitas vezes elas podem estar em situações de emergência real. “É fundamental que as crianças aprendam a usar o serviço com responsabilidade. Ensinar sobre o que é uma emergência de fato é crucial”, destacou.
As escolas desempenham um papel fundamental nesse contexto. O Núcleo de Educação em Urgência do Samu está capacitando profissionais de ensino em primeiros socorros e como educar crianças e adolescentes sobre o uso correto do serviço. “Os profissionais capacitados se tornam multiplicadores do conhecimento e ajudam a conscientizar os alunos sobre os riscos que um trote pode causar”, explicou Letrinta.
Atitudes para minimizar os trotes
A mobilização em torno da educação sobre o uso responsável do Samu é uma das estratégias para reduzir a incidência de trotes. É essencial que pais e educadores se unam em torno desse objetivo. “Devemos sempre priorizar a queixa de quem está do outro lado da linha, mesmo que seja uma criança, pois muitas vezes, elas realmente estão em situação de emergência”, concluiu Letrinta.
O desafio apresentado pelos trotes não é apenas uma questão administrativa para o Samu, mas uma questão que toca na responsabilidade social e educativa da comunidade. Todos devemos colaborar para garantir que o serviço esteja sempre disponível para aqueles que realmente precisam.
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