Nos últimos anos, o TikTok tornou-se um espaço onde, cada vez mais, crianças e adolescentes estão se vendo imersos em cuidados com a pele. Com rotinas que podem envolver até 14 produtos, muitas vezes com ingredientes agressivos e inadequados para peles jovens, a situação levantou sérias preocupações entre dermatologistas e educadores.
Por que essa tendência é alarmante?
Um estudo recente publicado no jornal Pediatrics analisou 100 vídeos do TikTok que mostram crianças de até sete anos seguindo rotinas de cuidados com a pele. Os resultados foram preocupantes: os jovens costumam gastar em média US$ 168 por rotina, com alguns chegando a mais de US$ 500, utilizando até 11 ingredientes que podem irritar a pele.
Um vídeo em particular destacou a questão: uma adolescente com aparelho nos dentes aplicava quase US$ 350 em produtos e, ao final, seu rosto estava visivelmente vermelho e inflamado. Em um momento angustiante, ela comentou: “Estou com muita dor e não sei o que fazer para parar a queimação.” Essa declaração ilustra a ironia da busca pelo “glow” enquanto as crianças provocam danos à própria pele.
A influência das redes sociais
A popularidade do TikTok está criando uma geração de “skincare addicts”. No estudo, os pesquisadores criaram contas simulando idades de 13 anos, a mínima permitida na plataforma, e descobriram que, ao interagirem com apenas alguns vídeos de cuidados da pele, o feed dos jovens rapidamente se saturava com conteúdos semelhantes, tornando essas rotinas perigosas normais.
Os influenciadores variavam de 7 a 18 anos, e a maioria eram garotas. Além disso, as estatísticas mostraram que cerca de 73% dos criadores apresentavam tons de pele claros, refletindo padrões de beleza limitados que podem ser prejudiciais à autoimagem em desenvolvimento das crianças.
O custo elevado da beleza ideal
Com o aumento do consumo de produtos para cuidados com a pele, os gastos das famílias aumentaram 27,2% em relação ao ano anterior, mesmo com a queda no gasto geral. O estudo apontou que uma rotina de cuidados poderia custar o equivalente a despesas alimentares mensais para muitas famílias.
Mesmo em rotina de cuidados, a proteção solar estava presente em apenas 26% dos vídeos analisados. Embora contenham produtos que tornam a pele mais sensível ao sol, os criadores frequentemente ignoram a importância desse passo essencial, aumentando o risco de danos a longo prazo.
Como cuidar efetivamente da pele infantil
Dermatologistas recomendam que os cuidados com a pele das crianças se resumam a um limpador suave, um hidratante e, claro, protetor solar. Para adolescentes com acne, produtos disponíveis sem receita que contenham peróxido de benzoíla podem ser suficientes. O uso excessivo de substâncias agressivas traz riscos de queimaduras químicas e reações alérgicas severas.
Padrões de beleza e suas consequências
Dr. Molly Hales, dermatologista da Northwestern University, ressalta que é problemático ver meninas tão jovens dedicando tanto tempo e energia a cuidados com a pele. A sociedade está impondo padrões de beleza que podem conflitar com padrões de saúde, geralmente atrelados a ideais de beleza branca e perfeição.
Embora existam benefícios para a interação entre mãe e filha em vídeos do tipo “Mommy and Me”, os riscos são alarmantes. A narrativa de que “cuidar bem da pele é um ato de saúde” disfarça os danos que essas práticas podem causar, tanto fisicamente quanto psicologicamente.
Conclusão
As crianças, na sua essência, já apresentam a pele que muitos adultos mais desejam: saudável e naturalmente bonita. No entanto, expostas às pressões das redes sociais e a padrões de beleza inatingíveis, podem acabar comprometendo sua maior riqueza por conta de tendências passageiras e enviesadas que incentivam a compra de produtos que, no fundo, não são necessários.
O alerta claro e evidente é que tanto pais quanto crianças devem estar cientes não apenas dos custos financeiros, mas também dos riscos à saúde envolvidos nessas novas modas, evitando sacrificar a saúde da pele em nome de um ideal estético que não merece ser perseguido.
