Entre os dias 6 e 8 de junho, cerca de 150 cientistas participaram da oitava edição da conferência da Sociedade de Cientistas Católicos, realizada na Universidade Católica de América, em Washington, D.C. O encontro abordou temas que variaram desde a liberdade humana até a origem da espécie, incluindo a relação entre teoria evolucionista e fé católica.
Debates sobre evolução e a doutrina católica
Especialistas como Kenneth Kemp, Daniel Kuebler e Christopher Baglow apresentaram perspectivas que demonstram a compatibilidade entre o ensino da evolução e os princípios da Igreja Católica. Kemp, professor emérito de filosofia na Universidade de St. Thomas, explicou que uma distinção fundamental é entre o conceito de “humano biológico” e o de “humano filosófico ou teológico”.
Segundo Kemp, um “humano biológico” é qualquer indivíduo com DNA humano, enquanto o “humano filosófico” possui pensamento reflexivo e livre-arbítrio. Já o “humano teológico” teria a capacidade de estabelecer uma relação com Deus, o que, para ele, distingue o homem de outros seres.
“Um ser totalmente humano na fase inicial do desenvolvimento era aquele que possuía essa humanidade filosófico-teológica, uma condição que todos os seres humanos modernos herdariam através de linhagem comum”, afirmou Kemp. Para ele, essa visão acredita na possibilidade científica e na ortodoxia teológica de que uma condição de racionalidade foi criada por Deus em alguns indivíduos, através de um processo de interbreeding.
Origem da humanidade e as evidências arqueológicas
Daniel Kuebler destacou que sinais de racionalidade podem ser identificados por meio de registros arqueológicos, como arte e ferramentas de cerca de 200 mil anos atrás, além do uso de ocre para decoração há mais de 300 mil anos. Essas manifestações indicam o desenvolvimento de pensamento abstracto.
Ele acrescentou que evidências mais específicas surgem há aproximadamente 100 mil anos, com a produção de arte ritualística e joias, indicando a presença de raciocínio complexo. A questão do papel de espécies como os homo neanderthalensis também foi discutida, com Baglow ponderando a possibilidade de esses hominídeos possuírem algum grau de “humanidade teológica”.
Posição oficial da Igreja e crenças dos fiéis
Desde 1950, a Igreja Católica, através da encíclica Humani Generis, aceita a teoria de que o corpo humano pode ter origem na evolução, desde que a alma seja criada diretamente por Deus. O papa Pio XII reforçou que não há contradição entre fé e ciência nesse aspecto, afirmando que todos os seres humanos descendem de um casal original, Adão e Eva.
Embora a Igreja não exija aceitação literal do evolucionismo, ela não o condena como uma hipótese científica compatível com a fé. Pesquisas recentes, como uma pesquisa da Gallup de 2024, indicam que aproximadamente 62% dos católicos acreditam que os humanos evoluíram ao longo de milhões de anos, enquanto 32% acreditam na criação divina em um período recente, até 10 mil anos atrás.
Perspectivas futuras
Especialistas ressaltam que o diálogo entre fé e ciência deve continuar, promovendo uma compreensão mais ampla dos processos que deram origem à humanidade. A conferência reforça a visão de que evolução e doutrina católica podem coexistir, desde que haja distinção entre o entendimento biológico e filosófico ou teológico do ser humano.
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