A recente decisão da Corte Suprema de Justiça da Argentina, que confirmou a condenação de seis anos de prisão da ex-presidente Cristina Kirchner por corrupção, reverberou fortemente no cenário político brasileiro. A confirmação da pena, divulgada na última terça-feira, desencadeou uma onda de solidariedade entre líderes da esquerda brasileira, que rapidamente expressaram apoio à ex-chefe do Executivo argentino em suas redes sociais. As reações também estão interligadas à oposição de Kirchner ao atual presidente Javier Milei, evidenciando a polarização política na região.
Solidariedade da esquerda brasileira
Entre os políticos que se manifestaram, destaca-se Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara, que fez uma crítica contundente à decisão judicial. Farias descreveu a condenação de Kirchner como uma “perseguição política e judicial” e que se insere em um contexto de “persecução a líderes progressistas da América Latina”. Ele argumentou que, enquanto Milei “desmonta a Argentina para servir aos interesses ultraliberais”, Kirchner sempre foi uma defensora da integração regional e dos projetos como Mercosul e Unasul, que envolvem parceria estratégica com o Brasil.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também se manifestou contra a decisão, chamando as provas apresentadas como uma “grave ameaça para as liberdades políticas na Argentina”. O Instituto Lula, em uma declaração emitida após a decisão, expressou “profunda preocupação e repúdio” à prisão da ex-presidente, afirmando que a ação judicial é uma estratégia para silenciar vozes contrárias ao governo de direita.
Condenação e possibilidade de prisão domiciliar
Com a decisão da Corte, Cristina Kirchner deverá cumprir os seis anos de pena, que pode ser convertida em prisão domiciliar, devido à sua idade, já que a ex-presidente tem mais de 70 anos. Hoje pela manhã, a defesa de Kirchner formalizou um pedido para que ela cumpra a pena em casa, evitando o uso de tornozeleira eletrônica.
Protestos em Buenos Aires
A expectativa em torno da decisão da Corte era alta, levando centenas de militantes peronistas e kirchneristas a protestarem em frente à sede do Partido Justicialista, em Buenos Aires, assim que a condenação foi anunciada. Durante os protestos, os manifestantes destacaram a suposta perseguição política enfrentada por Kirchner, cujo nome muito provavelmente estará ausente nas eleições legislativas programadas para outubro, uma vez que a sentença implicou na inabilitação perpétua de sua capacidade de concorrer a cargos públicos.
A reação do presidente argentino
Do outro lado do espectro político, o presidente argentino Javier Milei, atualmente em Israel, comemorou a decisão da Corte Suprema. Em um post na rede social X, Milei proclamou: “Justiça. Fim. A República funciona e todos os jornalistas corruptos, cúmplices dos políticos mentirosos, ficaram expostos em suas operações sobre um suposto pacto de impunidade.” Com tais declarações, o presidente reafirmou seu apoio a uma política de enfrentamento às vozes dissonantes em seu governo.
Implicações na política regional
A condenação de Cristina Kirchner e as reações a ela revelam um cenário de intensas tensões políticas na América Latina. A divisão entre direita e esquerda continua a se acirrar, com figuras de destaque de ambos os lados utilizando a situação para galvanizar apoio e criticar adversários. A forma como os líderes brasileiros estão respondendo a essa questão pode influenciar as relações entre os países e o futuro da política progressista na região, especialmente em um momento em que a cooperação e a integração são mais necessárias do que nunca em meio a crises econômicas e sociais.
O impacto da condenação de Cristina Kirchner ressoa não apenas na Argentina, mas também estabelece um precedente quando se fala em justiça política e judicial na América Latina, levantando questionamentos sobre o estado das democracias emergentes e a proteção de líderes e ideologias diversas diante da repressão.