A Corte Suprema da Argentina declarou, na última terça-feira, que a condenação por fraude da ex-presidente Cristina Kirchner é definitiva. A ex-presidente, que já ocupou o cargo entre 2007 e 2015, foi sentenciada a seis anos de prisão e banida por toda a vida de ocupar qualquer cargo público, tendo seu pedido de apelação negado pelos juízes.
Decisão da corte e repercussões políticas
A decisão da corte reafirma o peso da condenação, tornando-a irreversível. Com 72 anos, Kirchner poderá solicitar o cumprimento da pena em regime de prisão domiciliar, devido à sua idade. Ela contou com um prazo de cinco dias para se entregar às autoridades.
O atual presidente, Javier Milei, um crítico ferrenho de Kirchner e promotor da política liberal, reagiu à decisão com a frase: “Justiça. Fim” em sua conta no X. A condenação de Kirchner, que foi julgada por administração fraudulenta relacionada a concessões de obras públicas em seu mandato, é um marco significativo na história política da Argentina, onde ela é uma figura polarizadora.
O legado de Cristina Kirchner
Christine Kirchner é a segunda ex-presidente do país a ser condenada desde a transição da Argentina para a democracia em 1983, após Carlos Menem, que foi sentenciado por tráfico de armas, mas nunca cumpriu pena devido à imunidade parlamentar. A construção de sua imagem política está envolta em controvérsias, desde admiradores na esquerda até adversários na direita, que acusam seus governos de práticas corruptas e má gestão econômica.
Após o veredicto, Kirchner fez um discurso para seus apoiadores em frente à sede de seu partido, o Justicialista, onde descreveu os juízes como “fantoches agindo sob ordens superiores”, em uma clara alusão ao governo de Milei. Em resposta, seus apoiadores realizaram protestos em várias cidades argentinas, manifestando sua indignação e queimando pneus nas ruas, enquanto expressavam sua lealdade à líder.
A luta pela proteção dos direitos políticos
Kirchner apontou que a sentença já estava “escrita” antes mesmo de seu apelo, descrevendo sua condenação como “um símbolo de dignidade política, pessoal e histórica”. Ao lado de seus seguidores, muitos estavam emocionados e outras pessoas se abraçavam, demonstrando a união em sua defesa.
A política argentina vê um momento de incerteza. O cientista político Lara Goyburu analisa que essa condenação é vista como uma vitória para Milei, que prometeu erradicar o “kirchnerismo”, uma designação para o estilo econômico de Kirchner, frequentemente associado ao populismo. Nos últimos anos, ela se posicionou como uma crítica feroz às políticas de austeridade e cortes de gastos públicos de Milei.
Conflitos e reações na sociedade
A acusação de Kirchner envolve a autorização de contratos públicos a um parceiro de negócios, levantando suspeitas de conluio e favorecimento. Sua condenação já havia sido confirmada por um tribunal inferior em 2024. O chamado inicial de promotores para sua prisão provocou grandes manifestações em várias cidades em 2022, algumas das quais culminaram em confrontos com a polícia.
Recentemente, Kirchner sobreviveu a uma tentativa de assassinato, quando um homem apontou uma arma em seu rosto, mas a arma não disparou. Em março, os Estados Unidos baniram a ex-presidente e um de seus ex-ministros de entrar no país por corrupção. Kirchner ressaltou frequentemente que suas adversários querem vê-la “presa ou morta”.
Apesar da crise que afetou sua liderança, Daniel Dragoni, um conselheiro do partido de Kirchner, expressou sua determinação de que o movimento peronista, ao qual ela pertence, retornará. A população e os apoiadores da ex-presidente permanecem polarizados, e o futuro político de Kirchner continua incerto, mesmo com um histórico de forte influência na política argentina.
O desdobramento dessa condenação pode, de fato, marcar uma nova era para a política na Argentina, onde as tensões entre diferentes correntes ideológicas continuam a moldar o cenário nacional.