O ex-presidente Jair Bolsonaro foi o quinto réu a ser interrogado no processo relacionado à tentativa de golpe após as eleições de 2022. Durante um depoimento de mais de duas horas, ele admitiu ter tido conversas com comandantes das Forças Armadas, abordando alternativas diante da derrota eleitoral para Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, Bolsonaro negou qualquer intenção de efetuar um golpe e minimizou a seriedade das discussões acerca de medidas como o estado de sítio.
A insinuação de um golpe e o contexto das conversas
Bolsonaro afirmou que foi descartada a possibilidade de realizar um golpe, citando que não havia “clima” ou “base minimamente sólida” para isso. Em contrapartida, ex-chefes do Exército e da Aeronáutica relataram que as conversas tinham um teor considerável de insurreição. Segundo o ex-presidente, o que ocorreu após as eleições, como os protestos em frente aos quartéis, não constituía um golpe. “Golpe não são meia dúzia de pessoas, dois ou três generais”, disse ele, fazendo alusão ao golpe militar de 1964 para reforçar sua argumentação.
A perspectiva da Procuradoria-Geral da República
A Procuradoria-Geral da República (PGR) considera que a discussão sobre o uso de medidas excepcionais, previstas na Constituição, configura um atentado à democracia. O objetivo, segundo as investigações, seria impedir a posse de Lula, contrariando, assim, a vontade popular expressa nas urnas eletrônicas.
Durante o interrogatório, Bolsonaro foi interpelado pelo ministro Alexandre de Moraes sobre um rascunho que mencionava um plano golpista. Em resposta, ele negou ter conhecimento do documento e alegou que não houve tentativa de apresentar uma versão reduzida do texto, como indicado por um de seus ex-ajudantes.
A defesa da democracia e do voto impresso
Antes de finalizar seu depoimento, Bolsonaro ressaltou a importância do voto impresso, que, segundo ele, era uma forma de garantir a transparência do sistema eleitoral. Ele alegou que, se não houvesse dúvidas sobre a constitucionalidade do processo eleitoral, não estariam em julgamento.
Em resposta a uma série de perguntas de Moraes, ele insistiu que, em nenhum momento, infringiu a Constituição e que sempre “jogou dentro das quatro linhas” legais. Ele também criticou a deslegitimação das urnas eletrônicas, um dos pontos centrais da denúncia da PGR.
As movimentações da oposição e a inconformidade de apoiadores
No contexto das tensões pós-eleitorais, Bolsonaro mencionou a aglomeração de apoiadores em frente aos quartéis e os bloqueios realizados por caminhoneiros pedindo intervenção militar. Segundo o ex-presidente, essas discussões surgiram em meio a uma reunião com líderes militares e foram tratadas de forma leve, sem uma intenção concreta de imposição de medidas drásticas. Ele não hesitou em afirmar que, naquele momento, “não havia nada o que fazer”.
Bolsonaro se desvinculou ainda dos acampamentos que surgiram em apoio a ações consideradas radicais, afirmando que nunca tentou estimular movimentos que pressionassem por ações não democráticas, como o Ato Institucional nº 5.
O desfecho do interrogatório e as consequências legais
O ex-presidente encerrou seu depoimento abordando sua recusa em passar a faixa presidencial a Lula, argumentando que não queria se submeter à maior vaia da história do Brasil. Ao finalizar, pediu desculpas por possíveis insinuações de corrupção a integrantes do STF, afirmando não ter indícios para tais acusações.
Os réus, incluindo Bolsonaro, enfrentam múltiplas denúncias que incluem tentativas de golpe e crimes contra a democracia. A PGR permanece atenta às evidências apresentadas no tribunal, na expectativa de que a justiça prevaleça.
Esse caso continuará a ser um ponto focal na política brasileira, à medida que novas revelações e desdobramentos surgem das investigações em andamento.