Nesta segunda-feira, em Milão, foi apresentado o mais recente livro do cardeal Angelo Scola, intitulado À espera de um novo começo. Reflexões sobre a velhice. O evento, que aconteceu na sede do Arcebispado, contou com um diálogo fascinante entre o arcebispo dom Mario Delpini e o filósofo Massimo Cacciari. A obra, publicada pela Livraria Editora Vaticana, levanta questões profundas sobre a vida e a morte, temas que transcendem a simples existência e se adentram na busca por um sentido maior.
A importância do novo livro de Scola
Massimo Cacciari, um dos convidados do evento, descreveu o livro como de “relevância paradoxal”, ressaltando que ele “vai na contramão da cultura atual em muitos aspectos”. Em sua apresentação, Cacciari elogiou a relação intelectual que compartilha com Scola e enfatizou a riqueza cultural e teológica contida nas páginas da obra. Segundo ele, Scola é um “homem de firme convicção”, cujas reflexões sobre velhice e mortalidade são indispensáveis em tempos onde muitos preferem ignorar tais temas.
O diálogo entre Delpini e Cacciari abordou a “magna questio” da vida eterna, um conceito que Scola explora em seu livro. “Talvez devêssemos encontrar uma palavra diferente para dizer esta verdade do cristianismo”, sugeriu Delpini, enquanto Cacciari complementou, afirmando que “somos animais que sabemos que vamos morrer”, mas a cultura contemporânea muitas vezes tenta nos afastar dessa realidade. O filósofo enfatizou que a reflexão sobre a morte é central para viver plenamente e que essa consciência permeia cada momento de nossas vidas.
Reflexões sobre a morte e a vida eterna
O livro de Scola propõe a ‘meditatio mortis’, uma prática que remonta à filosofia de Platão. Cacciari observa que pensar sobre a morte não é apenas uma questão de aceitar o fim, mas uma maneira de iluminar a vida. A dúvida que muitos enfrentam—“o que será de mim?”—é uma questão refletida no trabalho de Scola. A resposta, como Scola sugere, encontra-se no amor e na acolhida, que se refletem no relacionamento com Deus.
Delpini, por sua vez, destacou que o pensamento pode surgir da surpresa ou da angústia, como é o caso da obra de Scola, onde o autor lida com a angústia da velhice, combinando-a com a esperança de um novo começo. A vida eterna, como discutido, se relaciona intimamente com o convite para amar e perdoar, conforme expresso na mensagem do Evangelho. Mesmo Cacciari, que se identifica como não crente, expressou um desejo por essa “vida bem-aventurada” que é promessa do pensamento cristão.
A conexão entre a cultura e a espiritualidade
O diálogo culminou em um entendimento de que a questão da vida eterna não deve ser encarada apenas como uma abstração metafísica, mas como uma parte intrínseca da nossa jornada. Segundo os debatentes, a espiritualidade deve estar imersa na vivência diária, nos gestos de amor e perdão, e não apenas em dogmas. Essa perspectiva foi uma das contribuições mais relevantes trazidas por Cacciari, ao afirmar que a verdadeira teologia deve abordar as questões fundamentais da existência humana, especialmente em um mundo que tende a esquecer a morte.
Cerrando o evento, Scola participou por meio de uma breve entrevista em vídeo, onde expressou sua gratidão a Delpini e Cacciari, enfatizando a importância da amizade e da comunhão em Cristo. O momento emocionante em que recordou o gesto do Papa Francisco após sua eleição—um abraço significativo que simboliza a união da fé e da liderança—ressoou fortemente entre os presentes, reforçando a mensagem central do livro de Scola.
As reflexões de Scola sobre a velhice e a vida eterna trazem à tona questões que confrontam a sociedade contemporânea. As palavras dos debatedores nos convidam a uma reflexão profunda: como viver com a consciência da morte e, ao mesmo tempo, cultuar a vida? Esta obra certamente oferece um ponto de partida valioso para essa discussão vital.
Para mais informações sobre o livro e as reflexões provenientes do evento, confira o link da matéria original.