A Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou a abertura de uma investigação contra o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, por sua suposta tentativa de obstruir uma ação penal relacionada a uma trama golpista. De acordo com a PGR, existem “elementos sugestivos” que indicam que Machado atuou para facilitar a evasão do tenente-coronel Mauro Cid, réu na mesma ação penal, ao tentar obter um passaporte português para ele.
O envolvimento de Gilson Machado e a trama golpista
Conforme informações da PGR, o procurador-geral Paulo Gonet expressou preocupações sobre o papel de Machado na obstrução das investigações em andamento. Em sua manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), Gonet ressaltou que as ações de Machado poderiam estar voltadas a viabilizar a evasão de Cid do Brasil, justamente quando o encerramento da instrução processual se aproxima.
A ação penal 2.688/DF está investigando uma suposta tentativa de golpe de Estado, envolvendo Cid e o ex-presidente Jair Bolsonaro, entre outros réus. A proximidade do desenrolar do processo levanta a suspeita de que ações como as de Gilson Machado visem evitar a aplicação da lei penal.
Tentativa de obter passaporte
As investigações da Polícia Federal (PF) revelaram que Gilson Machado procurou o Consulado de Portugal em Recife, cidade onde reside, buscando um passaporte para o tenente-coronel Cid. Contudo, essa tentativa foi frustrada, gerando a suspeita de que ele poderia recorrer a outras embaixadas ou consulados com o mesmo intuito. A PGR reitera que é essencial investigar a extensão das ações de Machado e se ele realmente tentou outras vias diplomáticas.
Procurado pela imprensa, Machado negou as acusações e defendeu que nunca buscou facilitar a vida de Cid, alegando que a consulta ao consulado se referia à emissão de um passaporte para seu pai. “Estou surpreso. Nunca fui atrás de nada a respeito de Mauro Cid”, declarou o ex-ministro.
Desdobramentos da Investigação
A PGR também enfatizou a necessidade de aprofundar as investigações para verificar se Gilson Machado, de fato, procurou outras representações diplomáticas e quais esforços ele pode ter realizado para favorecer Cid. A manifestação da PGR menciona que, mesmo com as informações disponíveis, há espaço para uma análise mais abrangente das atividades de Machado, considerando a gravidade das acusações em questão.
Além disso, a relação de Gilson Machado com Jair Bolsonaro não pode ser ignorada. Durante sua gestão como ministro, ele manteve um círculo próximo ao ex-presidente, o que levanta questões sobre possíveis motivações políticas por trás de suas ações. No ano passado, Machado também foi candidato à prefeitura de Recife, representando o PL, mas obteve apenas o segundo lugar nas eleições.
O contexto político atual
Recentemente, Gilson Machado lançou uma campanha para arrecadar recursos em apoio a Bolsonaro, o que levou o ex-presidente a declarar em depoimento à PF que tal apoio ocorreu sem seu conhecimento. O montante arrecadado teria chegado a R$ 1 milhão, evidenciando o esforço de Machado em manter a proximidade com Bolsonaro e sua base política.
Diante de toda essa situação, a PGR e a PF precisarão demonstrar a adequação das ações desenvolvidas por Gilson Machado à luz das leis e das responsabilidades que cabem a seus cargos e atividades. O desfecho dessa investigação pode ter implicações significativas no cenário político brasileiro atual e na percepção pública sobre o sistema de justiça e suas capacidades de assegurar a accountability entre os poderosos.
Com os desdobramentos dessa investigação ainda em andamento, a sociedade brasileira aguarda respostas claras e contundentes sobre as ações de figuras proeminentes que podem ter comprometido a integridade das instituições democráticas.