Uma biotech dos Estados Unidos anunciou o lançamento do Nucleus Embryo, uma plataforma que permite a análise e seleção de embriões humanos com base em inúmeros perfis genéticos, incluindo características físicas e de saúde. A prática, considerada pela Igreja Católica como violadora da dignidade humana, gera debates sobre os limites da manipulação genética na reprodução.
Novo procedimento de seleção de embriões e suas implicações
De acordo com Kian Sadeghi, fundador da empresa-mãe Nucleus Genomics, a tecnologia possibilita que pessoas que realizam fertilização in vitro (FIV) possam testar até 20 embriões para mais de 900 condições e traços, como risco de doenças, inteligência, altura e cor dos olhos, visando “otimizar” os resultados.
Sadeghi afirmou em seu site que a análise e edição de DNA podem criar um sistema de saúde preventivo. “Cada pai deseja oferecer o melhor aos seus filhos. Pela primeira vez na história, a Nucleus oferece uma nova ferramenta para esse compromisso,” disse.
Embriões considerados desejáveis podem ser implantados, enquanto aqueles considerados indesejáveis podem ser descartados, com base nas preferências dos pais.
Posição da Igreja Católica sobre manipulação embrionária
A Igreja Católica ensina que a fertilização in vitro é moralmente ilícita por separar completamente a procriação do ato conjugal, além de violar a dignidade do bebê. Além disso, condena a diagnóstica pré-implantacional, classificada como “shameful e reprovável,” por promover uma mentalidade eugenista e levar à destruição de embriões inocentes.
Em documento de 2008, a Congregação para a Doutrina da Fé, intitulada Dignitas Personae, afirma que o embrião humano não deve ser tratado como “material de laboratório”, pois isso viola sua dignidade, que é inerente a toda pessoa humana, independentemente de desejos, condição social ou desenvolvimento físico.
Riscos éticos e sociais da edição genética
O texto condena procedimentos de edição genética que visem melhorias físicas ou cognitivas, alertando para o risco de eliminar embriões afetados por anomalias e a tendência de medir o valor da vida com base na “normalidade”. Isso, segundo o documento, pode promover assassinato de embriões, e gerar socialmente divisões e marginalizações.
O questionamento central é quem decidirá quais edições genéticas são válidas, límites éticos que podem ser difíceis de estabelecer e que podem abrir margem para práticas extremas, como o infanticídio e a eutanásia, sob a justificativa de melhorar a qualidade de vida.
O especialista em ética bioética do Centro Nacional de Bioética Católica, Padre Tad Pacholczyk, alertou que a tecnologia pode estimular uma mentalidade de “controle e comando” na reprodução, reduzindo os filhos a “matéria bruta” e colocando em risco o valor incólume da vida humana.

“Vacinado por uma mentalidade de controle, o desejo por perfeição física e cognitiva leva à pressão para abortar ou eliminar filhos considerados ‘menos que perfeitos’,” comentou Pacholczyk. Ele reforçou que toda criança, independentemente de suas características, é “preciosa, boa e bela”.
Ética e limites no uso de diagnósticos pré-natais
Embora critique a manipulação genética destrutiva, Pacholczyk destaca que o uso de diagnósticos prenatais para orientar tratamentos – como no caso da leucodistrofia de Krabbe ou espinha bífida – é moralmente aceitável. Essas condutas ajudam na medicina terapêutica, visando o bem-estar da criança.
Ele conclui que o uso responsável da tecnologia deve priorizar a cura e o cuidado, sem buscarmos perfeição a qualquer custo, preservando a dignidade do ser humano desde a concepção.
(Fonte: CNA – Catholic News Agency, 10 jun 2025)