Emily Kaiser deixou sua cidade natal, Tulsa, aos 17 anos, em busca de sucesso em lugares considerados “mais legais, melhores, maiores e mais rápidos”. Hoje, aos 52 anos, ela voltou a dedicar-se à sua cidade e ao legado de seu pai, George Kaiser, renomado bilionário do petróleo.
De herdeira a líder filantrópica
Filha do fundador do conglomerado Kaiser Foundation, Emily trabalhou como repórter em Londres e Cingapura, acompanhando a expansão da fortuna familiar. Sua reflexão sobre o papel social da riqueza veio após o compromisso do pai de doar a maior parte dos recursos, ao assinar o grupo Giving Pledge ao lado de nomes como Warren Buffett, Bill Gates e Melinda French Gates.
“Minha reação inicial foi: ‘Não tenho nenhuma especialização e nada a oferecer’”, revelou Kaiser, que atualmente participa do grupo Next Gen (Próxima Geração), criado há uma década para envolver jovens herdeiros na filantropia.
Filantropia entre a nova geração
O Next Gen já conta com mais de 300 membros, com idades entre 18 e 75 anos, e serve de ponte para que jovens de famílias ricas assumam trabalhos sociais de modo mais consciente. Segundo Katherine Lorenz, cofundadora do grupo, o objetivo é criar uma conexão entre os jovens que herdam fortunas e a responsabilidade de doação.
Desafios familiares e o papel dos herdeiros
Muitos descendentes enfrentam dilemas sobre o uso da riqueza. Emily Kaiser explicou que, apesar de não herdar toda a fortuna, ela recebeu apoio para estabelecer limites e tarefas financeiras para seus filhos, que terão acesso a fundos de investimentos empreendedores com juros baixos, como parte de sua estratégia de transmissão de valores.
George Kaiser, por sua vez, já providenciou participações acionárias para seus três filhos e netos. Ele também deixou clara sua prioridade na doação de quase toda sua riqueza, estimada em US$ 5 bilhões, após sua morte, afirmando: “Eles têm o suficiente para fazer o que quiserem. Mas a maior parte vai para a caridade, sem problema algum”.
O impacto da filantropia familiar
As decisões de doação dos herdeiros costumam combinar autonomia com controle familiar. Warren Buffett, por exemplo, estabeleceu que seus três filhos serão responsáveis por administrar sua fortuna, devendo tomar decisões de forma unânime para evitar conflitos e garantir o alinhamento com a missão filantrópica.
Para auxiliar na preparação emocional e financeira de jovens herdeiros, grupos como o Next Gen promovem encontros e diálogos sobre os impactos da riqueza, ajudando a evitar ressentimentos e conflitos, além de promover uma cultura de doação responsável.
O futuro da filantropia entre os jovens milionários
Dados indicam que quase metade das 500 pessoas mais ricas do mundo, com idades a partir de 70 anos, detém US$ 4,72 trilhões em ativos, e uma previsão da pesquisa Cerulli aponta que em 2048 esse fluxo de riqueza pode chegar a US$ 18 trilhões que serão transferidos às gerações seguintes.
Especialistas observam que a nova geração de filantropos está cada vez mais engajada, considerando a doação uma missão de vida. Além de apoiar causas sociais, muitos buscam refletir sobre o legado que deixarão, promovendo uma mudança cultural significativa na gestão de súper-riquezas.
Contribuições e desafios atuais
O cenário acompanha a transição de figuras como Warren Buffett, Bill Gates e Melinda French Gates, que planejam suas doações e estratégias de doação de forma mais estruturada. Buffett, por exemplo, pretende deixar a maior parte de sua fortuna para a filantropia, com regras específicas para seus herdeiros.
Emily Kaiser reforça o papel de sua geração na continuidade dessas iniciativas, participando de conselhos e projetos que fortalecem o impacto social. “Se vamos apoiar a comunidade de Tulsa, isso não pode ser apenas o capricho de uma família poderosa”, afirmou.
Essa nova era de filantropia busca equilibrar autonomia, responsabilidade e impacto social, refletindo uma mudança cultural liderada por jovens herdeiros que abraçam a doação como parte do seu legado.