No último interrogatório realizado no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro refutou as acusações de envolvimento em tentativas de golpe de Estado e discutiu as ações de seus apoiadores no dia 8 de janeiro. O depoimento se deu no contexto da ação penal que investiga a trama golpista relacionada aos eventos pós-eleitorais de 2022.
Análise do Interrogatório
Durante um questionamento que durou cerca de duas horas, Bolsonaro foi confrontado com suas declarações passadas e suas atitudes em relação ao sistema eleitoral brasileiro. O ex-presidente, que enfrentou uma série de críticas e acusações após sair do cargo, se desculpou ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, por ofensas realizadas em uma reunião ministerial anterior.
1. “Sem clima” nem “margem sólida” para golpe
Bolsonaro usou seu tempo no STF para enfatizar que não houve “clima” nem “oportunidade” para um golpe após a derrota nas eleições de 2022. Ele comentou sobre discussões com assessores a respeito da possibilidade de decretar Estado de Sítio, mas afirmou que esta ideia foi rapidamente descartada. “Golpe não são meia dúzia de pessoas… sem armas, sem núcleo financeiro, isso não é golpe”, afirmou, referindo-se aos eventos de 8 de janeiro.
2. Atos de 8 de janeiro não configuram golpe
Quanto aos atos de depredação que ocorreram durante os protestos de 8 de janeiro, o ex-presidente minimizou a gravidade dos incidentes, afirmando que não havia liderança ou intenção de cometer um golpe. “Mil e quinhentas pessoas, pobres coitados, chegaram e foram embora logo após a baderna. Aquilo não é golpe”, insistiu Bolsonaro.
3. Pedido de desculpas a Moraes
O ex-presidente também pediu desculpas a Alexandre de Moraes e outros ministros do STF por suas críticas em uma reunião ministerial de 2022, onde insinuou que Moraes e outros teriam recebido “milhões de dólares” para defender as urnas eletrônicas. Bolsonaro disse ter se expressado sem intenção de acusação e ressaltou que não tem provas para essas alegações.
4. Rejeição à minuta golpista
Durante o interrogatório, Bolsonaro negou ter acesso a uma minuta que previa um golpe, embora tenha mencionado que foram discutidos “considerandos” com seus assessores após as eleições. Ele explicou que rapidamente se concluiu que nada poderia ser feito e que as discussões foram informais.
5. Negou previsão de prisão de autoridades
Além disso, ele refutou a ideia de que haveria um plano para prender autoridades, como mencionou um de seus ex-assessores em delação. Bolsonaro afirmou que não estava em pauta discutir prisões de autoridades em suas reuniões.
6. Críticas ao sistema eleitoral
Embora tenha recebido um relatório das Forças Armadas que afirmava não haver vulnerabilidades no sistema das urnas eletrônicas, Bolsonaro continuou a expressar suas dúvidas sobre a confiabilidade do processo eleitoral. “A dúvida faz parte da democracia e da nossa vida”, comentou.
7. Falta de faixa a Lula foi para evitar ‘maior vaia da história’
Por fim, o ex-presidente revelou que não passou a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva em sua posse, explicando que não queria enfrentar o que poderia ser “a maior vaia da história do Brasil”. Ele afirmou que sua decisão foi em respeito à situação que vivia após a derrota nas eleições.
O interrogatório de Jair Bolsonaro no STF sinaliza um momento decisivo em sua trajetória política, com reflexões significativas sobre a narrativa de sua administração e seu papel nos eventos que marcaram a política brasileira no último ano. O desdobramento deste caso continua a ser monitorado de perto, com implicações potenciais para a configuração política do país.
Com esta audiência, as tensões entre os diferentes ramos do governo e as narrativas sobre a legitimidade das últimas eleições no Brasil permanecem em evidência.