O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está prestes a passar por um momento histórico, sendo julgado por supostamente ser o mentor de uma conspiração armada da extrema-direita para tomarem o poder após sua derrota nas eleições presidenciais de 2022. O país se prepare para um julgamento que pode marcar uma nova era na história política brasileira.
A acusação e o contexto histórico
Aos 70 anos, Bolsonaro, um ex-paracuista que ocupou a presidência de 2019 a 2023, será interrogado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) esta semana. As investigações da polícia federal indicam que ele teria orquestrado um amplo plano de três anos para sabotar uma das maiores democracias do mundo.
Além de Bolsonaro, outros sete supostos co-conspiradores, incluindo quatro ex-ministros – três deles generais do Exército – e o antigo braço direito de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, também serão interrogados.
Esse julgamento é um marco significativo para um país que, após duas décadas de ditadura militar que terminou em 1985, enfrentou com intensidade a recente ameaça de um retorno ao autoritarismo após a vitória do veterano esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
Opinião de especialistas
O jornalista político Bernardo Mello Franco, do jornal O Globo, destaca que “é a primeira vez na história do Brasil que existe a perspectiva de os perpetradores de um golpe serem levados à justiça”. Ele observa que a história brasileira está repleta de golpes militares e contestações, geralmente sem punição para os responsáveis, devido ao poder que conquistaram sobre o Judiciário ou por meio de anistias após a ditadura militar.
As acusações contra Bolsonaro
Bolsonaro é acusado de tentar – mas sem sucesso – reverter a vitória de Lula por meio de um plano violento que incluía possíveis assassinatos ou prisões de rivais políticos, incluindo o presidente eleito, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF, Alexandre de Moraes. O ex-presidente nega repetidamente todas as acusações.
Milhares de brasileiros que se opõem a Bolsonaro esperam ansiosos pelo julgamento, atribuindo ao ex-presidente não só a ação de golpe, mas também responsabilidades por questões relacionadas à devastação da Amazônia, ataques históricos aos direitos dos povos indígenas e uma resposta desastrosa à pandemia de Covid-19 que resultou em centenas de milhares de mortes no país.
Expectativa pelo veredicto
Especialistas acreditam que Bolsonaro será considerado culpado e condenado ainda este ano, o que significaria um período de oblivion político e uma longa sentença de prisão para o ex-congressista. “Bolsonaro acredita que já foi condenado pelo STF – ele disse isso várias vezes”, afirma Mello Franco, comentando que existe uma grande quantidade de evidências contra o ex-presidente.
Recentemente, o ex-chefe da Força Aérea, o Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, apresentou provas incriminatórias, afirmando que, em certo momento de 2022, o então comandante do Exército, o General Marco Antônio Freire Gomes, ameaçou prender Bolsonaro se ele tentasse qualquer tipo de “ruptura institucional”.
A incerteza da punição e desdobramentos futuros
Contudo, existem muitas incertezas se Bolsonaro realmente cumprirá pena, mesmo se for condenado. Um candidato à presidência de direita nas eleições de 2026, Romeu Zema, já prometeu perdoar Bolsonaro se vencer. Pesquisas sugerem que, caso Lula busque a reeleição, ele enfrentará uma dura disputa contra o candidato de direita que herdar os votos do ainda popular ex-presidente.
As potenciais figuras que podem assumir esse papel incluem um dos filhos políticos de Bolsonaro, Eduardo ou Flávio, sua esposa, Michelle, ou os governadores conservadores de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
Como Bolsonaro se comportará no tribunal?
Ainda existem questionamentos sobre como Bolsonaro, conhecido por seu comportamento polêmico e por sua grande base de apoiadores nas redes sociais, se comportará durante o julgamento. Na véspera de sua aparição, ele afirmou que não usaria a audiência para “lacrar”, mas também garantiu que sua “inquisição” valeria a pena ser assistida, afirmando que a “verdade” estaria ao seu lado.
“Será transmitido ao vivo, o que é uma loucura”, comentou Mello Franco sobre a sessão carregada politicamente, sem prever como Bolsonaro se comportará no tribunal. “A única coisa previsível sobre Bolsonaro é que ele será imprevisível”.
O desenrolar deste julgamento certamente será um momento crucial na história política do Brasil e nos caminhos que o país poderá seguir nos próximos anos.