No último depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), afirmou categoricamente que não enviou dois documentos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As alegações surgem em meio a um contexto de investigações sobre uma suposta trama golpista que envolve altas figuras do governo anterior.
Detalhes do depoimento no STF
Durante sua declaração, Ramagem explicou que os documentos eram questionamentos pessoais sobre as urnas eletrônicas, sinalizando que a redação dos textos estava direcionada a Bolsonaro apenas como um meio de “concatenar ideias”. “Ela se direciona (a Bolsonaro) porque a forma de concatenar as ideias é sempre uma questão de diálogo. Isso não quer dizer que eu enviei a ele ou conversei com ele”, disse Ramagem ao STF.
O deputado enfatizou que os escritos eram de natureza privada, descrevendo-os como “documentos pessoais” e que não houve “difusão qualquer, encaminhamento qualquer”. “Eram anotações privadas diversas”, completou.
Interrogatórios da trama golpista
O STF iniciou nesta segunda-feira uma série de interrogatórios envolvendo os oito réus da suposta trama golpista, com Ramagem sendo o segundo a prestar depoimento, logo após o tenente-coronel Mauro Cid. Os documentos questionados pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, incluíam um chamado “Presidente TSE informa.docx”, que continha argumentos contra as urnas, e “Bom dia Presidente.docx”, que tratava sobre a criação de um grupo técnico para avaliação das mesmas.
Testemunhos de Mauro Cid e as implicações
Antes da fala de Ramagem, Mauro Cid, que firmou um acordo de delação premiada, declarou que Bolsonaro recebeu e fez alterações em uma minuta que sugeria ações golpistas. Ele também mencionou que o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, havia colocado as tropas da Força “à disposição”, indicando uma articulação bastante preocupante entre militares e membros do governo anterior.
Cid revelou que Bolsonaro não apenas leu, mas também modificou o documento, retirando a possibilidade de prisões de autoridades, deixando apenas o ministro Alexandre de Moraes como o único preso. O tenente-coronel, ao prestar depoimento, afirmou: “presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles”, defendendo-se das acusações de envolvimento ativo na trama.
Direito ao silêncio e depoimentos dos réus
Os interrogatórios estão sendo conduzidos pelo ministro Moraes e ocorrem na sala da Primeira Turma do STF. Todos os réus estão presentes, exceto o ex-ministro Walter Braga Netto, que é acompanhado por videoconferência devido à sua prisão preventiva. Cada réu possui a opção de permanecer em silêncio, sem que isso possa prejudicá-los, e responder somente a perguntas de seus advogados, se assim desejarem.
O relator também se preocupou em destacar a credibilidade de Cid como delator, enfatizando que ele já prestou quatro depoimentos sobre a trama. Essa análise busca desqualificar os argumentos apresentados pelas defesas de Bolsonaro e outros réus, que alegam incoerências nas declarações de Cid.
Expectativas e desdobramentos futuros
Os depoimentos dos réus estão programados para acontecer durante toda a semana atual, podendo se estender para a próxima, caso necessário. Ao todo, os oitenta alvos do processo são acusados de crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa armada.
Com o avanço das investigações e os desdobramentos do caso, a sociedade brasileira acompanha atentamente os desfechos no STF, que podem ter repercussões significativas para a política nacional e para os envolvidos.