No contexto das investigações sobre tentativas de golpe no Brasil, o tenente-coronel Mauro Cid prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde trouxe à tona informações alarmantes que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro e membros das Forças Armadas. Este artigo explora os principais pontos de sua declaração, que inclui desde a entrega de dinheiro em espécie até informações sobre paraplano de ação golpista.
1. A minuta golpista e a atuação de Bolsonaro
Cid afirmou que Jair Bolsonaro recebeu uma minuta que previa ações golpistas de seu então assessor Filipe Martins. Segundo ele, não apenas leu o documento, mas também fez alterações significativas. Originalmente, a minuta descrevia a prisão de ministros do STF e outras autoridades do Legislativo, mas Bolsonaro modificou o texto para evitar que outros nomes fossem mencionados, deixando apenas o do ministro Alexandre de Moraes, que riu durante o depoimento quando isso foi mencionado.
2. Apoio militar à tentativa de golpe
Durante o interrogatório, Cid mencionou que o almirante Almir Garnier, o ex-comandante da Marinha, havia colocado tropas “à disposição” para um possível golpe. Cid também reportou que presenciou uma trama golpista no governo, embora negasse ter participação ativa nas ações que agora estão sendo julgadas. Ele descreveu Garnier como membro de uma ala radical próxima a Bolsonaro, que desejava uma ruptura institucional.
3. Entrega de dinheiro em caixa de vinho
Um dos pontos mais chocantes do depoimento foi a revelação de que Cid recebeu uma quantia em dinheiro, supostamente destinada a financiar ações contra o governo eleito, de Walter Braga Netto. O dinheiro foi entregue em uma caixa de vinho no Palácio da Alvorada e, segundo Cid, deveria ser usado para monitorar o ministro Alexandre de Moraes. Ele confirmou que sabia do conteúdo, mesmo sem abrir a caixa, e estimou que o valor não ultrapassava R$ 100 mil, insinuando que o dinheiro poderia ter origem no agronegócio.
4. Expectativa de fraude nas urnas
Cid trouxe à tona discussões sobre uma suposta expectativa de Bolsonaro e Braga Netto de que haveria uma fraude nas urnas eletrônicas. Essa fraude, segundo ele, seria utilizada como uma justificativa para uma intervenção militar no processo de transição de governo. Contudo, isso não se concretizou, visto que as investigações não encontraram qualquer vulnerabilidade no sistema eleitoral.
5. Sem pressão para depor
Ademais, Cid foi questionado sobre uma reportagem que indicou que ele teria sofrido pressão para fazer declarações falsas. Ele negou veementemente, afirmando que se tratava de desabafos feitos em momentos difíceis e que não houve coação por parte da Polícia Federal. Cid sustentou que respondeu a todas as perguntas de forma voluntária e sem qualquer pressão.
6. Apoio tácito do Exército a acampamentos golpistas
Outro ponto destacado por Cid foi o apoio tácito do Exército às manifestações golpistas ocorridas em frente aos quartéis, que clamavam por um golpe. Ele corroborou que, a partir de 11 de novembro de 2022, as manifestações tiveram um “apoio mais formal”, refletido em uma nota oficial dos comandantes militares que defendiam a liberdade de reunião.
7. Conclusão e repercussões
Este depoimento de Mauro Cid lança luz sobre as complexas relações entre o ex-presidente Bolsonaro, as Forças Armadas e as movimentações golpistas durante a transição de governo em 2022. As revelações acendem um alerta sobre os limites da democracia no Brasil e as implicações de tais atos na política nacional. A continuidade das investigações será crucial para esclarecer os papéis de cada envolvido e prevenir futuras tentativas de desestabilização democrática.