No último dia 6 de junho, uma audiência pública na zona rural de Juazeiro do Norte, interior do Ceará, se tornou a cena inesperada de uma reclamação bem-humorada, mas contundente, sobre a merenda escolar. Maria de Fátima Pinheiro, uma aluna de apenas 9 anos, fez um apelo que rapidamente viralizou nas redes sociais ao criticar a repetição de soja nas refeições servidas na escola. “Todo dia é cuscuz com soja, é pão com soja, é sopa com soja… Ninguém aguenta mais comer soja”, disse a menina, arrancando risadas de outros estudantes presentes.
A voz da infância que ecoou na audiência pública
Maria de Fátima, aluna do 3º ano da escola Líder Comunitário Antônio Miguel de Souza, aproveitou o espaço de fala na audiência, organizada pela Câmara Municipal como parte do projeto “Câmara com o Povo”, para expressar um sentimento comum entre seus colegas. O evento, realizado na sede da ONG Missão Baluarte, permitiu que moradores da região expusessem suas queixas e sugestões. A menina pediu, de forma divertida, que os vereadores enviassem “pelo menos uma carninha” para a merenda, um pedido que fez ecoar as vozes de muitas crianças que, assim como ela, se sentiam cansadas da mesma oferta alimentar.
Repercussão e resposta da prefeitura
Após a viralização do vídeo que capturou a fala de Maria, o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) decidiu agir. Na manhã da segunda-feira (9), ele fez uma transmissão ao vivo para esclarecer a situação do fornecimento de carne na merenda escolar e mostrar o estoque de insumos disponíveis. O prefeito afirmou que um procedimento administrativo estava em andamento para investigar os problemas de abastecimento, que resultaram em apenas 9 mil kg de carne entregues, enquanto 17 mil kg haviam sido solicitados. Durante a live, Bezerra elogiou a coragem da menina: “Estamos aqui para ouvir, e ela exerceu seu direito de cidadão”, ressaltou.
A vida de Maria de Fátima e a voz da nova geração
Maria de Fátima não é uma estranha ao palco. Sua mãe, Alane Pinheiro, revelou que a filha sempre teve gosto por se comunicar em público, gravando vídeos sobre sua rotina para as redes sociais. “Ela está aprendendo a lidar com a repercussão das suas falas e já pensa em ser influenciadora digital”, contou Alane, ressaltando que a menina sempre trazia para casa as queixas sobre a merenda escolar, uma reclamação que também vinha do irmão mais velho, de 14 anos.
“Não era só ela que falava. Outros colegas também comentavam que não aguentavam mais soja. Isso virou um ponto de conversa entre eles”, explicou a mãe, que estava ao lado da filha no evento e a incentivou a falar. “Ela queria se manifestar e tinha a consciência de que se não falasse agora, talvez não tivesse outra oportunidade”, disse Alane, que se mostrou orgulhosa da coragem da filha.
Compromisso da prefeitura com a alimentação escolar
Prometendo uma solução, o prefeito anunciou que a prefeitura está trabalhando na diversificação dos fornecedores de proteína para a merenda. Isso inclui a aquisição de carne vermelha e filé de peixe, além de um comprometimento com a agricultura familiar. O objetivo é garantir refeições balanceadas e nutritivas para os 34 mil alunos das 95 escolas da rede municipal.
A cada dia, a importância da participação ativa das crianças e adolescentes na discussão de temas que impactam suas vidas torna-se mais evidente. A coragem de Maria de Fátima em expressar a insatisfação de seus colegas demonstra que vozes jovens são fundamentais para promover mudanças significativas na sociedade.
Ao final da sua fala, Maria de Fátima agradeceu a todos que a escutaram: “Esse é só um depoimento que eu vim pra dizer mesmo.” Suas palavras não só chamaram a atenção para uma questão crucial, mas também inspiraram uma mobilização em prol de melhorias na alimentação escolar, mostrando que até mesmo as menores vozes podem fazer uma grande diferença.
