Neste mês, o processo que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil ganhou novos contornos. Após a primeira rodada de interrogatórios, os advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro, Celso Vilardi e Paulo Bueno, avaliaram que as declarações do tenente-coronel Mauro Cid foram “extremamente positivas” para a defesa. Em suas alegações, eles destacaram as contradições nas falas de Cid, que podem ser exploradas em benefício do ex-presidente.
Contradições nas falas de Mauro Cid
Durante o interrogatório, realizado na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Cid apresentou o que os advogados consideraram como uma “memória seletiva”. Vilardi criticou a postura do militar, afirmando que o mesmo “quando confrontado, diz que esqueceu. Assim é fácil delatar”, referindo-se à possibilidade de Cid ter colaborado involuntariamente para incriminar Bolsonaro.
O advogado também contextualizou suas perguntas, especificamente sobre uma reunião com empresários no Palácio da Alvorada. De acordo com Vilardi, Cid “inventou uma reunião” e não conseguiu lembrar de detalhes cruciais, como um documento solicitado dois dias antes do encontro. “É o sétimo depoimento diferente, não tem um idêntico”, destacou o advogado, ressaltando as incoerências nas declarações de Cid.
Negativas sobre ordens de Bolsonaro
No transcorrer do depoimento, Mauro Cid negou ter recebido ordens de Bolsonaro para desmobilizar manifestantes que estavam concentrados em frente a áreas militares após a eleição de 2022. Ele afirmou também que não percebeu qualquer incentivo do ex-presidente para os atos antidemocráticos que ocorreram em 8 de janeiro de 2023. Essa postura foi interpretada pela defesa como um ponto a favor, uma vez que se alinham com a narrativa da defesa de Bolsonaro.
Mauro Cid e a minuta do golpe
Por outro lado, Cid confirmou que Jair Bolsonaro recebeu e modificou o texto da chamada “minuta do golpe”. O militar afirmou que Bolsonaro teria “enxugado a minuta”, que originalmente previa ações contra diversas autoridades, restringindo apenas ao ministro do STF e relator do processo, Alexandre de Moraes. Esta revelação pode representar um desdobramento significativo no caso, já que revela uma possível intenção de Bolsonaro de minimizar as consequências de suas ações.
Além do depoimento de Mauro Cid, o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, também foi ouvido. A sessão de interrogatórios foi suspensa na noite de segunda-feira (9) e será retomada nesta terça-feira (10), a partir das 9h, com a presença do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier.
Expectativas e próximos passos
A Primeira Turma do STF reservou um total de cinco dias para ouvir, além de Bolsonaro e Cid, outros seis réus, incluindo figuras de destaque como Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, e Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Celso Vilardi, advogado de Bolsonaro, reiterou que o ex-presidente deve esclarecer a situação do “enxugamento da minuta” mencionada por Cid em seu próximo depoimento.
O desenrolar desse processo pode ser crucial para o futuro político de Jair Bolsonaro e para a interpretação do que ocorreu durante e após as eleições de 2022. Com os depoimentos se acumulando e as contradições emergindo, o cenário se torna cada vez mais complexo e recheado de imprevisibilidade.
O desfecho dos interrogatórios pode fornecer respostas importantes e influenciar diretamente a opinião pública, político e até mesmo o cenário eleitoral futuro no Brasil.