No dia 9 de junho, durante a aclamada meditação realizada na Sala Paulo VI, a irmã Maria Gloria Riva, da Congregação das Adoradoras Perpétuas do Santíssimo Sacramento, apresentou um poderoso convite à esperança, um tema central no Jubileu da Santa Sé. A religiosa fez uma abordagem que nos lembra que a saudade não deve ser “desligada do presente”, mas sim uma força propulsora em direção ao “grande horizonte da vida que não morre”.
A beleza que salva segundo Dostoiévski
Inspirando-se na famosa frase do personagem Príncipe Myškin, do romance “O Idiota” de Fiódor Dostoiévski, que diz que “a beleza salvará o mundo”, irmã Riva questionou: “Que beleza salvará o mundo?” A resposta se encontra na obra “Cristo Morto”, de Hans Holbein, que representa uma “grande beleza perdedora”. Para a religiosa, essa beleza é essencial, pois “a esperança nasce onde as lágrimas de dor e arrependimento fecundam a alma em humildade e novidade de vida”. Assim, a ligação entre arte e esperança é estabelecida, entrelaçando passado, presente e futuro.
Agradecimento ao Papa Francisco
Emocionada, a irmã Riva começou sua meditação agradecendo ao Papa Francisco e ao dom Rino Fisichella, que a escolheram para participar deste grande evento. Ela destacou a conexão que compartilha com o Papa Leão XIV, ressaltando suas origens na Regra de Santo Agostinho e a historicidade significativa de sua comunidade, aprovada por Leão XII há 200 anos.
A esperança como um fio tenso entre tempos
Habitante da República de São Marino há uma década, a irmã Riva enfatizou a importância dos pequenos Estados na preservação das tradições em um mundo globalizado. O conceito de “esperança” está intrinsecamente ligado ao termo hebraico “tikva”, que tem raízes na palavra “corda” ou “fio”: “o homem que tem esperança, arraigado em seu passado, sabe lançar-se para o futuro enquanto vive o presente em tensão”. Essa conexão entre passado e futuro é o que fortalece a esperança na vida cotidiana.
Uma luta constante entre passado e futuro
Em sua fala, a irmã Riva sublinhou a importância de encontrar um equilíbrio entre o passado e o futuro, afirmando que “a grande raiz da esperança” reside na capacidade de viver essa suspensão na linha do tempo. Ela advertiu que se apegar ao passado pode levar a um tradicionalismo estéril, enquanto se lançar de maneira imprudente ao futuro pode resultar em um “futurismo ilusório”, incapaz de lidar com os desafios que o presente nos impõe.
Referência a De Chirico e a busca pelo presente
A referência à obra “O Retorno do Filho Pródigo”, de Giorgio de Chirico, destaca como o passado fornece um trampolim para viver o presente. Irmã Riva salienta que este impulso a se questionar sobre as experiências passadas não deve esmagar, mas sim relançar no presente com a intenção de olhar para o futuro com esperança.
A natureza da luta e a corrida do progresso
As inquietações e as dores do passado continuam ecoando no presente, conforme a irmã Riva menciona. A busca incessante pelo progresso, num mundo moldado pelos meios de comunicação social, pode causar confusão. “Cuidado”, alertou a religiosa, “os meios são instrumentos que exigem uma orientação e um conhecimento seguro de nossas raízes.” Isso se alinha em parte com a formação agostiniana da irmã, que lembra que não se corre bem quando não se sabe a direção a seguir.
Trabalhando em direção a grandes horizontes
Ela finaliza sua reflexão trazendo à tona a corrida dos apóstolos João e Pedro rumo ao sepulcro vazio, a corrida de quem sabe que a esperança reside na vida eterna. Esse é um chamado a trabalhar “pelo grande horizonte da vida que não morre”, questionando se as ações estão em sintonia com a verdade e a dignidade humana.
Humildade e a natureza da esperança
A irmã Riva também abordou as “coisas últimas” que provocam crises interiores e sentimentos de inadequação, mas ressaltou que a humildade é o terreno fértil de onde a esperança floresce. Citando Victor Hugo, ela afirmou que “os humildes são os verdadeiros fortes”, encorajando uma visão de vida generosa e admirada.
Unidade na Eucaristia
À medida que concluía, a religiosa recordou as palavras da Beata Maria Madalena da Encarnação, ressaltando que “esperar” significa viver em unidade. A Eucaristia aparece como um canal privilegiado de esperança, devendo não apenas ser conhecida, mas também crida e proclamada.
Desafios de uma fé em meio a perseguições
Ao retornar à realidade do século XIX, a irmã trouxe à tona a fundação de sua comunidade em meio a perseguições, ressaltando que o olhar deve se voltar para a Eucaristia em tempos de tormenta. É o amor eterno de Deus que deve nos moldar e nos ajudar a reconhecer os sinais de renascimento e esperança que surgem no cotidiano.
Dostoiévski e os sinais de salvação
No final, irmã Riva reiterou a complexidade do tema da beleza que salva, afirmando que mesmo a cruz pode ser um símbolo de salvação, se aceita e oferecida. A última imagem evocada foi a de Nossa Senhora, a maternidade que acolhe o renascimento da esperança, onde passado e presente se entrelaçam, guiando em direção ao futuro.
A passagem da Cruz do Jubileu
Ao término da meditação, o Papa Leão XIV participou de uma procissão, levando a Cruz do Jubileu da Sala Paulo VI até a entrada da Basílica de São Pedro, manifesta a unidade e a esperança que permeia o Jubileu.